quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Trilogia U.S.A. - John Dos Passos


Boas, sei que há muito não venho aqui ao blog deixar as minhas opiniões/sugestões de leitura, infelizmente devido a vários factores isso não tem sido possível, mas isso não quer dizer que também não tenha lido, antes pelo contrário, li vários e bons livros que (provavelmente) irei falar sobre eles aqui no blog.
Para compensar esta minha ausência, hoje vou dar a minha opinião não sobre um, mas sim sobre três livros.
Estes três livros em questão, fazem a obra que normalmente é chamada de "Trilogia U.S.A." do escritor Norte - Americano (com descendência lusa) John Dos Passos.
John Dos Passos, um dos maiores escritores Norte Americanos e pertencente à chamada "Lost Generation" como Hemingway, T.S. Elliot ou Fitzgerald, viveu intensamente o início do século XX, foi jornalista, viajou e conheceu a Europa, combateu na I Guerra Mundial e fez parte de grupos de esquerda Norte - Americanos e toda esta experiencia de vida depois foi transposta para esta monumental obra.
A "Trilogia U.S.A." é composta pelos seguintes livros: "Paralelo 42"; "1919" e "O Grande Capital".
No primeiro livro, "Paralelo 42", Dos Passos mostra-nos os Estados Unidos na época imediatamente antes da I Guerra Mundial e através das estórias de vidas de diversos personagens, que correm ao longo de toda a trilogia, podemos acompanhar as primeiras mudanças sociais, as lutas dos trabalhadores, as péssimas condições de vida e a exploração dos mesmos pelos grandes industriais.
No segundo livro "1919", temos o periodo da I Guerra Mundial, a neutralidade (falsa) dos Estados Unidos, as "caça à bruxas" aos pró-germânicos, os primeiros voluntários a irem combater para a Europa e depois a entrada real dos Estados Unidos na guerra. A maior parte da acção deste livro é passada na Europa e para além da Guerra, continua a mostrar os problemas sociais/sindicais mas também as primeiras ascenções de gente que era pobre e sobe na vida.
O terceiro livro "O Grande Capital", centra-se no período pós-guerra, no regresso dos soldados, do "boom" americano, os "loucos anos 20", a especulação na bolsa o início do capitalismo Americano, mas continua a mostrar também o outro lado, a desigualdade, a miséria, tal como nos outros livros anteriores.
As personagens desta obra, são pessoas normais, com os seus sonhos, vitórias, desilusões, cujas vidas por vezes se tocam em determinadas alturas, criando uma teia de estórias e acções que se entrelaçam entre si de forma suave e subtil.
Outro ponto que torna esta obra tão revolucionária é a própria escrita de Dos Passos, que divide a acção com pequenos interlúdios, com pequenos "recortes de notícias", notas pessoais, cantigas, que apesar de quebrar o ritmo da acção, coloca-nos ao mesmo tempo no contexto histórico/social da época.
Apesar da tradução estar muito boa, perde-se algumas nuances e experiências que Dos Passos faz com o inglês, mas felizmente este livros trazem um grande conjunto de notas e explicações do tradutor onde nos mostra e exemplifica essas experiências estilísticas.
Como se podem aperceber adorei estes livros, li os três em menos de uma semana e recomendo-os a todos.
Apesar de terem sido escritos na década de 30 do século passado, continuam actuais, há situações que parece que estão a acontecer agora.
Pipas

quinta-feira, 23 de junho de 2011

A Sul da Fronteira A Oeste do Sol - Haruki Murakami


Desta vez trago-vos mais um livro do escritor japonês Haruki Murakami. Como também já vos disse nos posts anteriores que fiz sobre outros livros dele, este é um escritor com o qual eu tenho uma relação especial, a sua forma de escrever, as suas personagens e o ambiente que ele cria nos seus livros, deixam-me completamente fascinado.
Este livro em particular - "A Sul da Fronteira A Oeste do Sol" - é um desses livros que nos prende do princípio ao fim. Apesar de não ser dos melhores dele, tem uma estória bonita e com algum mistério que se lê bastante bem.
Murakami traz-nos a estória de Hajime e Shimamoto, primeiramente como crianças na década de 50/60 do século passado e depois mais tarde como adultos.
Hajime, filho único é um rapaz com um feitio especial, tímido e com interesses diferentes do resto das crianças, o que o leva a fazer amizade com Shimamoto, uma rapariga igualmente filha única e com os mesmos interesses dele e com uma ligeira deficiência numa perna o que lhe provoca um ligeiro coxear.
Sendo assim, eles passam os dias juntos, a ler, a estudar e principalmente a ouvir música, os discos da colecção do pai de Shimamoto, onde ele descobre a música de Nat King Cole - "South of the Border West of the Sun" - que empresta o seu título a este livro.
A amizade entre eles vai aumentando e aprofundando-se à medida que eles vão crescendo, transformando-se em algo mais profundo mas que eles ainda não percebem o que é.
Infelizmente a vida dá muitas voltas e o pai de Hajime tem de mudar de local de trabalho e devido a isso leva consigo a sua família e vão viver para outra cidade.
Hajime é forçado a separar-se de Shimamoto e apesar de ao princípio ainda ir ter com ela, com o tempo vão se separando definitivamente, entretanto conhece outra rapariga e apaixona-se por ela, mas o relacionamento termina de forma abrupta. Hajime entretanto acaba o secundário e vai para a universidade em Tóquio, aí leva uma vida solitária tanto como estudante, como depois de formado.
Começa a trabalhar numa pequena editora especializada em livros escolares e tem pequenas relações com várias mulheres, mas farta-se de todas elas.
Aos 30 anos conhece Yukiko e casa-se com ela. O pai de Yukiko é um grande empreiteiro de Tóquio, com muito dinheiro e proporciona o arranque da nova vida Hajime ao oferecer-lhe um espaço num prédio construído por ele. Aí Hajime abre o seu primeiro bar de jazz, sonho antigo que ele tinha e ao longo do tempo o seu bar torna-se bastante conhecido e conceituado, tornando-o num empresário de sucesso e com uma vida familiar fabulosa.
Mas um dia Shimamoto reaparece e a partir daí toda a sua vida de Hajime dá uma volta, velhas questões reaparecem, dúvidas sobre os seus sentimentos e claro todo o mistério que envolve a vida de Shimamoto desde que se separaram e que vai interferir também na sua vida.
Naturalmente também adorei este livro, é uma estória bonita, bem construída e com algum mistério o que proporciona uma leitura agradável e empolgante.
Murakami dá um final interessante a este livro, mas que deixa muitas perguntas no ar, o que é óptimo porque o leitor pode interpretar ou imaginar o final de outra forma.

domingo, 19 de junho de 2011

Ultramarina - Malcolm Lowry


Malcolm Lowry, foi outro dos "escritores malditos", teve uma vida muito conturbada, com muitos problemas devido ao alcoolismo e apenas publicou em vida dois livros publicados, primeiro este "Ultramarina" e depois o livro pelo qual é mais conhecido "Debaixo do Vulcão". 
Lowry para além do álcool, teve outra grande paixão na sua vida, as viagens e após terminar a escola e antes de ingressar na universidade, Lowry convence o pai a deixá-lo embarcar durante um ano num navio mercante como moço de convés e criado e nele faz várias viagens ao extremo oriente, (China, Japão) e vai tirando muitas notas e apontamentos que mais tarde irão dar forma a este seu primeiro romance "Ultramarina".
"Ultramarina" é na sua essência um romance auto-biográfico, nele Lowry recria-se na personagem de Dana Hilliot, um jovem de dezoito anos que tal como ele embarca num navio mercante, o "Oedipus Tyrannus", numa espécie de viagem iniciática e de passagem à idade adulta.
Hilliot não tem vida fácil no navio, é constantemente repreendido pelos mais velhos, atrasa-se no trabalho, mas nunca desiste e faz tudo por tudo para ganhar a simpatia dos restantes tripulantes, mas principalmente do cozinheiro Andy que lhe é particularmente antipático porque acha que ele está a tirar o lugar a algum "rapaz bom" que merecia mais que ele estar no navio.
Lowry ao longo do livro vai contando as peripécias de Dana durante a viagem e durante as escalas, onde ele é gozado pelos outros tripulantes por não ir a terra divertir-se com medo de trair a namorada que deixou em Inglaterra.
Este livro para além de ser um livro de viagens, bem ao estilo de Conrad ou Kipling (autores que Lowry leu durante a sua juventude), é também como atrás disse uma viagem iniciática, onde o jovem se torna num Homem e é também uma lição de vida, onde Dana Hilliot (que tal como Lowry é oriundo de classes sociais mais altas), conhece e tem de lidar com diferentes pessoas, situações e culturas totalmente diferentes do que ele conhecia, contribuindo para a sua formação de vida para ser um adulto responsável.
Gostei bastante deste livro, lê-se muito bem e esta edição que li pertence à colecção "Não Nobel" que está a ser lançada pelo jornal "Público".

sábado, 18 de junho de 2011

The Shipping News - E. Annie Proulx


"The Shipping News" da E. Annie Proulx, é um dos livros mais bonitos que li.
Annie Proulx, famosa escritora Norte - Americana, que já ganhou vários prémio, entre eles um Pulitzer com este mesmo livro, traz-nos de uma forma simples mas bastante emocionante uma bonita estória de um homem que após uma vida de desilusão e desprezo, consegue começar do novo numa terra longe e agreste.
Quoyle, o protagonista desta estória é daquele tipo de homens, cuja vida se resume a um tremendo nada, com uma infância pouco feliz, desprezado pelo pai, deixa os estudos e vai vivendo de pequenos trabalhos e vários empregos, até arranjar emprego num pequeno jornal.
Entretanto conhece Pearl, uma rapariga bastante bonita por quem se apaixona e com quem casa, mas Pearl depressa se revela, não se interessa por ele, vive uma vida de boémia, trai-o constantemente, mas mesmo assim Quoyle ama-a incondicionalmente e tem duas filhas com ela.
Um dia, recebe uma chamada do pai a informa-lo que ele a sua mãe se vão suicidar. No dia da cremação, Quoyle também descobre que Pearl o abandona de vez e leva com ela as filhas.
A partir daí entra em desespero e ao mesmo tempo conhece a sua tia, irmã do seu pai que vem para a cremação do seu irmão.
Após estes acontecimentos todos, Quoyle (que consegue recuperar as filhas), vai com a sua tia para a "Terra Nova" no Canadá, de onde a sua família é originária para refazer a sua vida.
A acção do livro, é aqui que realmente começa, Quoyle vê-se num sítio estranho, agreste, longe e diferente de tudo o que até aí conheceu e arranja trabalho num pequeno jornal da terra.
Descobre igualmente o passado (pouco recomendado) da sua família e tem de se libertar igualmente da sua fobia à água.
Este livro como já disse, tem uma estória muito bonita, mas para além disso, também a própria descrição da paisagem, vida e sociedade das pessoas que vivem num sítio tão desolado e agreste é magistral, por vezes sentimo-nos como se estivéssemos lá, quase sentimos o vento gelado a atravessar os nossos ossos.
A estrutura do livro também está muito boa, Proulx, dividiu o livro em vários capítulos, com título e com um pequeno texto sobre um nó ou arte de marinheiro específica, o que também torna a leitura bastante interessante.
Adorei este livro, que também já foi adaptado ao cinema, tal como "O Segredo de Brockback Mountain" que também é baseado num conto dela.
Recomendo a leitura deste livro e depois ver o filme, que tem vários actores conhecidos como Kevin Spacey, Cate Blanchett, Julianne Moore e Judi dench e que está (apesar de algumas diferenças), muito fiel ao livro.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Correcções - Jonathan Franzen


Jonathan Franzen é provavelmente um dos escritores Norte-Americanos mais conhecidos e lidos dos últimos tempos.
Recentemente lançou um livro “Liberdade” que se tornou um dos maiores sucessos no universo literário mundial e que consagrou definitivamente Jonathan Franzen como um grande escritor da actualidade.
Antes de ter escrito “Liberdade”, Franzen escreveu também outro magnífico livro “Correcções” e é sobre ele que eu vou falar.
“Correcções” escrito em 2001, apesar de não ser o primeiro livro de Franzen, foi o livro que o lançou. Foi com este livro que venceu diversos prémios literários como por exemplo o “National Book Award” ou o “New York Times Best Books of the Year” e o colocou na ribalta.
Este livro conta-nos a estória de uma família: Os Lambert, os pais Alfred e Enid e os seus três filhos, o mais velho Gary, o do meio Chip e a mais nova Denise.
A acção do livro passa-se durante os anos 90 do século passado, na época aúrea dos Estados Unidos, antes da crise económica, do atentado ao World Trade Center, quando ainda existia a “nova ordem mundial” e os Estados Unidos dominavam o mundo.
Alfred, o pai, engenheiro ferroviário reformado, com a doença de Parkinson, é um homem de regras e de escrúpulos, foi sempre fiel à empresa onde trabalhou, antes dela ter sido comprada e reformulada por um grupo de investidores, foi igualmente um pai e marido rígido e impôs uma educação baseada nesses valores aos seus filhos. Agora, doente, com todos os problemas que o Parkinson lhe traz e limitado apenas à companhia da sua mulher, tenta por todos os meios fazer a vida o mais normal possível apesar das dificuldades que isso traz a Enid.
Enid, a mãe, uma típica esposa dedicada ao marido e aos filhos, vive num mundo seu, desiludida no seu íntimo pela pouca ambição do marido e por isso nunca terem enriquecido (como os seus vizinhos que apostaram na bolsa e em fundos), com os seus filhos, que não foram os filhos perfeitos que ela sempre desejou, vive em exclusivo para o seu marido e tem em mente um projecto que quer concretizar a todo o custo que é juntar a família toda num último jantar de Natal na casa onde ainda habitam e onde os seus filhos nasceram e cresceram.
Gary, o filho mais velho apesar de ser o filho mais bem sucedido na vida, banqueiro, tal como o pai, agarrado ao trabalho, foi subindo na empresa devido ao seu “faro” para os negócios e investimentos. Mas nem tudo é perfeito na sua vida, Gary tem problemas, apesar de bem casado e com três filhos, não consegue impôr em casa a disciplina e a educação que ele quer, a mulher não quer ser dona de casa, tem valores totalmente contrários aos dele e aproveita-se de uma antiga lesão nas costas para fazer “chantagem emocional” com ele, utilizando e “virando” os filhos contra ele. Somando a isto tudo há a recusa da mulher e dos filhos de irem passar o Natal com Alfred e Enid, o que vai provocar uma série de problemas e incidentes na vida do casal.
O filho do meio, Chip, é o que se pode chamar a “ovelha negra” da família, deu um grande desgosto aos pais ao seguir literatura em vez de medicina ou engenharia. Mais tarde é colocado como professor numa escola e a vida até lhe vai correndo bastante bem, até se envolver com uma estudante menor, que lhe vai destruir a sua vida e carreira. Expulso da escola, decide tornar-se escritor e vive obcecado a escrever um argumento para um filme, enquanto que para viver vai fazendo uns trabalhos para um jornal e pedindo dinheiro emprestado à irmã. Até que um dia, se vê envolvido num esquema fraudulento que o vai levar para a Lituânia dos anos 90, recém independente da U.R.S.S. e na bancarrota, dominada por mafiosos e senhores da guerra.
Por fim temos Denice a filha mais nova, que também desiludiu os pais, principalmente a mãe, deixou de estudar, e começou a trabalhar num restaurante onde aprendeu e tornou-se uma chef. Entretanto casou-se com o dono do restaurante, um homem bastante mais velho que ela e judeu, mas o casamento dura pouco e ela vai trabalhar para outro restaurante, mais tarde conhece Brian, um programador informático que ficou rico devido a um programa por ele inventado e que constrói um restaurante de propósito para Denise administrar.
Através de Brian, Denise conhece também a sua família, principalmente a sua mulher Robin, que vai alterar a sua vida de vez.
Após Franzen nos ter dado a conhecer a família Lambert, um por um, vai acontecer uma situação na vida deles, relacionada com Alfred, e que por fim os vai juntar num último Natal e que vai servir para além de reunião de família, também de expiação a todos eles.
O que torna este livro tão bom, não é a estória particular de Lambert, mas sim o retrato social dos Estados Unidos que Lambert nos faz através dela.
Para além do normal confronto de gerações entre pais e filhos, temos também o próprio confronto de valores e morais entre as gerações mais próximas, o desmoronar do ideal de família Norte-Americano, em que os filhos seguiam as pisadas dos pais e tornavam-se também bons pais/mães de família, dedicados ao trabalho e ás famílias. Mostra também o “boom” tecnológico que se deu nos anos 90, a internet, os computadores, fortunas que se criaram de repente devido a isso e também da nova forma de fazer dinheiro através dessas novas tecnologias, a especulação, a bolsa, os fundos, a informação on-line que permite estar constamente a fazer negócios e também as vigarices e esquemas que acabaram por rebentar, originando a crise que depois nos afectou (e continua a afectar) a todos.
De facto é um livro magistral que nos prende do princípio ao fim, e que mereceu todos os prémios que recebeu.
Entretanto também já tenho o “Liberdade” e estou desejoso de o ler.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

A Estepe - Anton Tchékhov


Terminei hoje de ler hoje mais um "pequeno grande livro" que é este "A Estepe" do escritor russo Anton Tchékhov.
Antón Tchékov é a par de Dostoievski, Tolstoi e Gogol um dos maiores escritores russos, mas que ficou mais conhecido devido aos seus contos e às suas peças de teatro, como já referi neste blog sobre outro livro que já li dele.
"A Estepe", não é um conto, mas também não é um romance, é um pequeno livro que nos traz a estória do jovem Iegoruchka que juntamente com o seu tio Ivan Ivanytch Kuzmitchoff, com o padre Cristóvão Siriiski e o cocheiro Deniska e depois noutra fase com um grupo de trabalhadores rurais que conduziam um comboio de carruagens a cavalo com mercadorias para vender faz uma viagem pela estepe russa.
O jovem Iegoruchka, filho da irmã viuva de Kuzmitchoff, acompanha-o mais ao padre Siriiski numa viagem de negócios que ambos fazem para vender lã a uma grande cidade, para depois ficar nessa cidade entregue a uma amiga da sua mãe e entrar num liceu para estudar e assim atravessando a grande estepe russa pela primeira vez.
Nessa viagem Iegoruchka fica impressionado com o ambiente e paisagem à sua volta que lhe desperta curiosidade, passando por aldeias, campos, moinhos e estalagens, conhecendo também outras pessoas que nunca antes tinha visto.
A certa altura devido a negócios o tio de Iegoruchka tem de fazer um desvio para encontrar um rico senhor a quem lhe vai vender mercadorias e entrega o rapaz a um grupo que ia integrado num comboio carruagens a cavalo que se dirigiam para a cidade.
Nesse grupo Iegoruckha conhece várias pessoas, com várias idades e feitios e conhece o que é a vida dura do campo e da estepe, continua a passar por várias povoações, enfrenta uma tempestade até que chega ao destino e se junta novamente ao seu tio e ao padre, para logo de seguida ficar entregue aos cuidados da amiga de sua mãe enquanto estiver a estudar nessa cidade.
Tchékhov, com esta pequena estória e através dos olhos de um jovem, faz mais uma vez um retrato fiel e cru da realidade russa da sua época, retrata a vida difícil dos mais pobres e a grande riqueza dos mais ricos, mas ao mesmo tempo mostra-nos a grande beleza e imensidão da estepe russa, a vida selvagem e as adversidades que sofre quem lá vive e trabalha, sendo a estepe na realidade a personagem principal nesta estória.
Esta viagem é também para o jovem Iegoruckha uma espécie de ritual de passagem da adolescência para a vida adulta, em que ele de momento para outro deixa de ser uma criança protegida pela sua mãe e tio para se desenvencilhar sozinho numa grande cidade onde não conhece ninguém.
Lê-se extremamente bem este livro, (li a edição da coleção "Não Nobel" do jornal Público), tem uma linguagem acessível, é pequeno e apenas os nomes das pessoas é que são mais difíceis de ler.
Gostei bastante.

terça-feira, 17 de maio de 2011

O Livro dos Homens Sem Luz - João Tordo


João Tordo, jovem escritor português que fez furor com o seu livro "O Bom Inverno", traz-nos neste seu primeiro livro uma obra muito boa e com a sua escrita "negra" já bastante demarcada.
"O Livro dos Homens Sem Luz", explora a solidão humana, a decadência do Homem e a loucura. Está construido com quatro capítulos, com estórias diferentes e separadas no tempo, que aparentemente nada têm umas a ver com outras.
Sendo assim na primeira estória temos um homem que perde a família e que se vê depois disso a trabalhar como uma espécie de "detective privado", seguindo diversas pessoas e fazendo relatórios para um homem misterioso, depois temos um casal que durante a II Guerra Mundial aquando da destruição da sua casa por uma bomba alemã fica preso na cave do prédio, sem luz e por um prolongado periodo de tempo e cuja reacção e forma de responder a esse acontecimento é totalmente diferente de um para o outro, de seguida é a estória de um jovem ex-estudante que trabalha numa biblioteca e que sofre de insónias devido ao seu misterioso vizinho do lado e por último, regressamos ao casal que ficou soterrado, principalmente ao homem e vêmos o que lhe aconteceu depois de ser resgatado.
Apesar de estas estórias aparentemente serem independentes umas das outras, estão interligadas através das personagens e as suas vidas cruzam-se umas com as outras criando uma teia de acontecimentos que por fim se juntam para o fim da meada.
Como atrás disse, a escrita de João Tordo é uma escrita negra, e nota-se tal como diz na contra-capa do livro, "uns ecos de Kafka e Paul Auster", sendo mesmo a primeira estória muito semelhante à primeira estória da "Trilogia de Nova Iorque" de Auster. O João Tordo cria também situações e ambientes que de tão opressivas e deprimentes, lembram sem dúvida Kafka, juntamente com um pouco de realismo mágico.
Apesar da ligeira semelhança ou lembrança de outros livros e autores que este livro me trouxe (Trilogia de Nova Iorque de Auster, 2666 de Bolano e até mesmo o Marina de Zafón), gostei bastante, aliás gostei mais deste livro do que do "O Bom Inverno".
Sem dúvida que João Tordo juntamente com Gonçalo M. Tavares, José Luís Peixoto e Walter Hugo Mãe, é um dos melhores jovens escritores portugueses da actualidade e de certeza que irá dar que falar no futuro.
Nuno

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Viagem Ao Fim da Noite - Louis Ferdinand Céline


Bom se há autores controversos e incompreendidos, Céline é de certeza um deles!
Louis-Ferdinand Céline, francês foi sem dúvida um escritor que muito deu de falar, tanto em França como no resto do mundo, sendo primeiramente admirado e considerado por todos como um génio e depois devido às suas opiniões anti-semitas e suposta colaboração com os alemães durante a II Guerra Mundial, caiu em desgraça e foi posto de parte durante muitos anos, sendo a sua obra redescoberta apenas recentemente.
Este post não é para falar de Céline nem das suas ideias ou ideais políticos, porque há muita ambiguidade e controvérsia acerca disso e a mim apenas me interessa o Céline escritor e particularmente este seu livro, considerado por muitos como um dos melhores livros do séc. XX.
Além disso, para quem estiver interessado acerca de Céline este livro também traz uma pequena biografia dele escrita por Aníbal Fernandes, que é ao mesmo tempo o tradutor desta edição do "Viagem Ao Fim Da Noite" e um dos maiores investigadores/impulsionadores da sua obra em Portugal.
Este livro, traz-nos a estória de parte da vida Ferdinand Bardamu e com ela mostra-nos um retrato cruel das pessoas e da sociedade do princípio do séc. XX.
A estória começa então com Bardamu um jovem estudante de medicina que num impulso se voluntaria para o exercito para ir combater na I Guerra Mundial, a partir daí Céline através de Bardamu começa logo a traçar um retrato negro da humanidade, com a guerra, o porquê da guerra, a questão do patriotismo e a vida dos soldados que por tudo e por nada eram castigados e até fuzilados.
Num destes episódios da guerra, Badamu encontra-se pela primeira vez com Robinson, personagem que o vai acompanhar durante a vida e até mesmo condicioná-la como se verá depois no livro. Entretanto Bardamu é ferido e regressa a Paris, onde no hospital conhece uma enfermeira americana com quem tem um relacionamento e que devido a ela também, lhe nasce a vontade de ir para os Estados Unidos.
Mas como ele recupera, tem de voltar novamente para a frente da guerra e como ele não quer regressar, faz-se de doente e é novamente internado.
Depois de ser internado e ser dado como inapto para voltar à guerra, decide ir para as colónias de África, mas tudo lhe corre mal logo desde o embarque no navio que o leva a África, cujos restantes passageiros, militares, comerciantes, funcionários governamentais e respectivas esposas, lhe ganham um ódio sem qualquer razão aparente e ele decide fugir, num porto onde o navio fez escala.
Em África também não tem sorte, a vida é miserável, as condições são extremas, os europeus são pessoas viciadas, más, vingativas e corruptas, vencidas pelas doenças tropicais e sem escrúpulos nenhuns.
Bardamu é colocado num entreposto de uma companhia comercial, na selva isolado, onde vai substituir o antigo responsável por esse entreposto que é Robinson. Mas Bardamu não aguenta o isolamento, a doença, o mal-estar e resolve fugir, doente é levado por uma série de nativos a uma povoação que já é pertença de uma colónia espanhola.
Aí é entregue a um padre que o "vende" a um navio para lá trabalhar, no navio recupera e começa a trabalhar até que, ironia do destino, esse navio o leva aos Estados Unidos.
Ao aperceber-se que está nos Estados Unidos foge, mas depressa descobre que afinal os Estados Unidos não são a "terra prometida". Durante a sua estadia lá, Bardamu reencontra a sua antiga namorada americana de Paris e também Robinson. É também nessa estadia que conhece a única mulher que o ama de verdade e o trata bem, mas Bardamu farta-se dos Estados Unidos e regressa a França onde termina os estudos de medicina e se estabelece como médico nos subúrbios de Paris.
Nesta parte do livro, Céline mostra bem como a vida era em França, a pobreza extrema, as más condições, a falta de higiene, a mesquinhez das pessoas, o alcoolismo, enfim toda uma panóplia de coisas que transformam as pessoas em seres maus, quase animais e prontos a destruirem-se umas às outras.
É nesta fase que se dá o regresso de Robinson e a sua presença mais regular na vida de Bardamu e que vai influenciar todas as suas decisões, atingindo o clímax que irá ser o fim do livro.
Este livro é de facto uma viagem ao fim da noite, mas a noite representa a alma humana, a sua podridão, a sua mesquinhez, o aproveitamento dos mais fracos pelos mais fortes, é um livro intenso, com uma leitura "pesada", com passagens fortes que mostra a condição humana na sua face mais baixa.
Polémicas à parte é um excelente livro e que deve de ser lido, não deve ser esquecido ou posto de parte devido ao seu autor, porque aqui o que está em causa não é a pessoa mas a sua obra, e neste caso a obra é imensa.
Entretanto os meus parabéns à Ulisseia (Babel) e ao Aníbal Fernandes, por nos estarem a trazer ao público português a obra de Céline, pena haver tantos e tão bons autores que continuam esquecidos das editoras portuguesas que preferem editar literatura de "hipermercado" aos grandes autores internacionais e também nacionais, mas isso é outro assunto que não é para aqui chamado.
Nuno

sábado, 30 de abril de 2011

A minha whishlist

Por esta altura do ano, já sairam inúmeras edições de livros, sejam de livros novos escritos por autores novos, livros novos de autores velhos, ou reedições de livros velhos, etc., etc..
Eu após exaustiva pesquisa tanto aqui pela net, (principalmente nos sites das editoras e nos blogues literários), como em papel na imprensa especializada e (acima de tudo) nas minhas visitas às livrarias, escolhi de entre os vários livros que gostava de ler e ter, três que espero que façam parte da minha biblioteca brevemente.
Os livros em questão sao:


"O Cemitério de Praga", o último de Umberto Eco, um grande escritor e pensador da actualidade cujas obras, nomeadamente os romances históricos são sempre de um rigor e de uma escrita fabulosa.



"Liberdade", o romance, de Jonathan Franzen, que o catapultou para os escaparates literários, sendo já considerado pela "Time" como  "great american novelist", recomendado pela Oprah no "Oprah''s Book Club", ou o "fenómeno literário da década" como lhe chamou o "The New York Times", e foi também este o livro que Obama levou para ler nas suas férias.
Franzen inclusivé já tinha  vencido o "National Book Award" em 2002 com o seu livro anterior, "Correcções"
Acho que estes são motivos mais do que suficientes para aguçar-me a curiosidade.


Finalmente o terceiro livro desta "whishlist" é a nova reedição de "Os Budden Brook" de Thomas Mann, autor que dispensa apresentações e que nunca me deixa de surpreender e de gostar mais a cada livro que leio dele.
E pronto aqui estão os livros que me deixaram "com a pulga atrás da orelha" e que espero conseguir adquirir e ler o mais depressa possível.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Tratado das Paixões das Almas - António Lobo Antunes

Imaginemos que Portugal numa época não especificada, mas que aparenta ser nos princípios dos anos 90 do século passado, é assolado por um grupo terrorista de esquerda, de inspiração maoísta, que faz atentados, assaltos, etc., tal como um I.R.A. ou uma E.T.A.
Imaginemos que é criada uma brigada especial da polícia chefiada por um juiz de instrução e que é apanhado um terrorista que por acaso é um amigo de infância desse mesmo juiz que chefia as investigações.
António Lobo Antunes, com este mote traz-nos mais outro livro fabuloso, cheio de ironia e que com o seu estilo inconfundível de escrita explora o lado mesquinho das pessoas.
Apesar de estar dividido em seis partes, este livro pode-se dividir em duas grandes partes principais, a primeira parte aborda e explora a relação entre o juiz, que como atrás disse é escolhido pelo próprio governo para chefiar as investigações e o interrogatório do "homem" (seu amigo de infância) um elemento de uma célula do grupo terrorista que assola Portugal e que foi capturado pela polícia, sendo que a segunda parte se foca nas pequenas estórias dos intervenientes da acção, tais como os restantes elementos do grupo terrorista e outras personagens periféricas e também nas acções levadas a cabo pela polícia para a captura do grupo terrorista. 
A estória da amizade entre o juiz e o homem, é complicada, são amigos de infância, mas o juiz é filho de pais pobres e humildes sendo o pai um alcoólico e que vêm da província para Lisboa para trabalharem como caseiros na quinta de Benfica que pertence aos avós do Homem.
O Homem, cuja mãe morreu num acidente de automóvel e o pai que ficou com graves deficiencias mentais devido ao mesmo acidente, vive com os avós e é um autentico "menino de bem".
Ambos quando crianças partilham de brincadeiras, partidas, aventuras, sendo que muitas vezes (ou quase sempre) o juiz é "usado" pelo homem e fica sempre com as culpas quando as coisas correm mal e são apanhados a fazerem "asneiras". Entretanto vão crescendo, o juiz torna-se num aluno aplicado, vai para a universidade e consegue ser juiz e o homem, sempre preguiçoso, sem ambição não segue os estudos e vai trabalhar para a companhia de seguros do avô mas num nível inferior e com a idade vão-se separando e perdendo a amizade um pelo outro.
Até que o homem que foi aliciado por um colega de trabalho que pertence aos terroristas e o recruta, cai numa armadilha e é capturado pela polícia. O juiz escolhido por causa da sua ligação com ele em criança inicia os interrogatórios, e é aí que vê (lê) a mestria da escrita de Lobo Antunes, que intercala passado com presente de uma forma natural e fluida sem nunca baralhar o leitor.
A seguir aos interrogatórios, o Homem é solto mas a trabalhar para a polícia de forma a ajudar na captura dos restantes elementos do grupo terrorista e a partir daqui Lobo Antunes pega nas pequenas estórias dessas diversas personagens e com muita ironia e até com alguma comédia traça um retrato de Portugal da época, os seus vícios, as suas "vigarices" e "esquemas", os abusos de poder, a política, a falsidade e a traição.
Fala também da decadência, do Portugal do antes 25 de Abril 1974, o Portugal das grandes famílias, quase ainda feudal que se transforma com uma rapidez impressionante  num Portugal de acelarado urbanismo descontrolado e valores e ideais totalmente diferentes dos anteriores.
Dos diversos livros de Lobo Antunes que já li, este foi sem dúvida o mais simples de ler e o mais divertido e irónico, gostei bastante e até o aconselho a quem nunca leu Lobo Antunes e se queira iniciar na sua leitura.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

A Autêntica - Saul Bellow


Saul Bellow, escritor Norte-Americano e vencedor de um Nobel, geralmente escreve sobre homens de meia-idade, solitários, amargos com a vida, num ambiente urbano e intelectual e judeus como ele. Por isso este seu livro "A Autêntica" não podia fugir muito a esta temática.
"A Autêntica" traz-nos a estória de Harry Trellman, um homem de meia-idade, solteiro e muito reservado que por ter uma certa aparência oriental e outras razões, sai dos Estados Unidos e vive vários anos no oriente, sendo uma espécie de comerciante de antiguidades orientais e contrabandista.
Harry Trellman depois de viver tantos anos no oriente decide regressar aos Estados Unidos, nomeadamente à sua Chicago natal, cidade essa à qual ele tem uma ligação muito especial.
Em Chicago Trellman funda a sua empresa de antiguidades e começa a dar-se com pessoas ricas e influentes e é num jantar social que conhece Adletsky, um multi-milionário e ambos tornam-se muito amigos e confidentes.
Em Chicago também vai reencontrar Amy Wustrin, sua namorada quando jovens, mas que depois se casou com o seu amigo Jay.
Trellman nunca deixou de amar Amy durante toda a sua vida, mesmo quando era casada com Jay que entretanto já tinha falecido e com uma pequena ajuda de Adletsky, vai refazer a sua vida.
Este livro de Bellow é carregado de emoções, de arrependimentos e amor, mais uma vez ele consegue mostrar o lado emocional masculino.
Apesar de achar o livro pequeno (só tem 137 páginas) e muito mais podia ser explorado, adorei-o, tal como os livros que já li dele, "Ravelstein" e "Morrem Mais de Mágoa" que foi recentemente reeditado pela Quetzal.
Para quem nunca leu Bellow recomendo qualquer um deles.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Wolf Hall - Hilary Mantel

Wolf Hall, da escritora inglesa Hilary Mantel, é provavelmente um dos melhores romances históricos dos últimos anos.
Para além de romance histórico, este livro é também uma excelente obra literária e foram todos estes argumentos que lhe valeram para receber o prestigiado "Man Booker Prize" em 2009.
Hilary Mantel com este seu livro traz-nos a história de Thomas Cromwell, uma das maiores figuras da Inglaterra do séc. XVI e mostra-nos através dele um periodo muito conturbado da história da Inglaterra.
O livro começa com um pouco da infância de Cromwell, oriundo do povo, filho de um ferreiro que constantemente o maltrata e que em adolescente foge de casa e vai correr a Europa.
A acção retoma anos mais tarde já com Cromwell de volta à Inglaterra, um advogado e comerciante respeitado e também secretário do Cardeal Wolsey, a figura principal de Inglaterra depois do rei.
Nesta altura reina Henry VIII, casado com Catarina de Aragão que já tinha sido esposa do seu falecido irmão o rei Arthur.
Henry, entretanto desiludido com a sua esposa e com apenas uma filha (a futura rainha Mary), visto que todas as outras crianças que teve morreram, apaixona-se por uma jovem cortesã, Anne Boleyn. A partir daqui inicia-se toda uma série de intrigas, jogos políticos, ambições, traições que levam à queda do Cardeal Wolsey e à ascenção de Cromwell.
Cromwell era um homem de visão, organizado e metódico, um excelente estadista que aos poucos e poucos foi alterando toda a política da Inglaterra que nessa época era um país muito atrasado e feudal, enquanto os outros países da Europa gozavam já um enorme avanço tanto político-económico, como o caso de Portugal e Espanha (estamos no periodo aúreo do Império Português com D. João III no trono), como científico e artístico como nos Reinos de Itália, com o Renascimento. É igualmente uma época de grande conflito espiritual com a ascenção do Calvinismo e do Luteranismo no norte da Europa e as lutas e revoltas religiosas.
Cromwell aproveitando o facto de o Papa Clemente não reconhecer o divórcio de Henry VIII com Catarina de Aragão, criou o "Acto de Supremacia" em que dava poder sobre a igreja ao rei de Inglaterra e não ao Papa, criando assim a igreja Anglicana.
Com esta lei Henry VIII, pode divorciar-se e casar novamente com Anne Boleyn, mas esta também só lhe dará uma filha, a futura rainha Elizabeth I.
Evidentemente que esta lei não agradou ao clero e ao povo inglês que eram obrigados a aceitar a lei ou a sofrerem diversas consequencias, uma delas terá sido a morte de outra grande figura da Inglaterra desta época, Thomas More (mais tarde tornado santo e mártir pelo Vaticano), que se recusou a aceitar e foi condenado à decapitação.
O livro termina com a morte de More, mas muito mais sucedeu após isso, não sei se a Hilary Mantel irá fazer outro livro com o resto da vida de Cromwell ou não, mas este já é bom o suficiente.
O livro denota um grande trabalho de investigação e rigor histórico, os factos estão bem ficcionados e a estória corre muito fluida e bastante fácil de se ler.
Gostei muito do livro, o prémio que recebeu é sem dúvida mais que merecido e vale bem a pena ler.

sábado, 9 de abril de 2011

Karl Marx Biografia - Francis Wheen


Practicamente desde o início do ano que não posto nada aqui no blog, isso deveu-se a várias razões, desde à minha vida profissional que sofreu uma mudança, a outras de âmbito pessoal, mas a maior razão de todas elas foi pura e simplesmente a preguiça e a falta de vontade para fazer as "reviews" dos livros que li durante este periodo de ausência (que já vão em 28, quase 29).
Mas hoje decidi acabar com esse periodo de preguiça mental e voltar a fazer as "reviews" e a dar as minhas opiniões sobre os livros que leio.
O livro que trago para este regresso, é uma biografia sobre Karl Marx, do jornalista Britânico Francis Wheen.
Karl Marx é sempre um nome que nos traz à memória coisas más, regimes opressivos, a ex U.R.S.S., a repressão que foi feita em nome das suas teorias, os gulags, perseguições políticas, "Guerra Fria", etc..
Tudo isto de facto aconteceu debaixo do "Marxismo", mas será que este "Marxismo" foi de facto o que Karl Marx criou, descreveu e lutou durante toda a sua vida?
Francis Wheen, jornalista Britânico, que trabalhou em vários jornais e revistas de referencia ingleses e também na BBC, vem com esta biografia mostrar-nos o lado mais humano e real de Karl Marx e desmistificar muito do que se diz ou se pensa sobre Karl Marx.
Karl Marx nascido na Alemanha numa família de pequena burguesia e de ascendencia judia, desde muito cedo se revelou uma pessoa com uma inteligencia muito acima da média, mas também com um temperamento muito peculiar. Na sua juventude e apesar de ir contra a vontade dos pais começa a estudar filosofia, particularmente a de Hegel que muito contribuiu para a construção dos seus ideais e filosofia, estudando nas Universidades de Bona, Colónia e Berlim. Nestas cidades Marx dedicava-se igualmente à boémia, percorrendo os cafés e tabernas e as tertúlias onde começou a interessar-se pela política.
A partir daqui toda a sua vida começa a ser dominada pela política e pela "luta de classes", escreve em vários jornais, é perseguido e obrigado a fugir para vários países da Europa até que se estabelece de vez na Inglaterra onde viverá a maior parte da sua vida e onde serão escritas as suas obras mais importantes incluindo a sua obra-prima "O Capital".
Mas como atrás disse esta biografia mostra-nos também o lado humano de Marx, a sua vida íntima, o seu amor incondicional à sua esposa "Jenny", aos seus filhos que morreram quase todos antes dele, a sua vida de miséria e provações, as suas lutas com os seus inimigos e a sua amizade de uma vida com Engels.
Nesta biografia outra coisa que se vê é que Marx apesar de sempre lutar contra as desigualdades, nunca deixou de cultivar uma vida de pequeno burguês, chegando a passar dificuldades e a contrair enormes dívidas para sustentar essa imagem para ele e para a sua família, o que contradiz de todo a imagem de "revolucionário" que se criou à volta de Karl Marx.
Gostei muito de ler esta biografia, é bastante fácil de se ler, não entra em "dissertações filosóficas ou políticas", apenas mostra Marx como uma pessoa igual a todas as outras com as suas lutas, alegrias e angústias.

sábado, 15 de janeiro de 2011

As primeiras aquisições de 2011


E pronto... Hoje resolvi fazer um pouco de turismo por Lisboa e claro que não vim de mãos a abanar ...
Sendo assim na Trama comprei - "O Eleito" de Thomas Mann, depois desci ao Chiado e na Assírio e Alvim comprei - "O Género Intranquilo - Anatomia do Ensaio e do Fragmento" de João Barrento e "Almas Mortas - Aventuras de Tchítchikov" de Nikolai Gógol, de seguida fugi logo para o comboio antes que fosse à Fnac ou à Bertrand e "torrasse" o resto do ordenado em livros.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Uma Viagem à Índia - Gonçalo M. Tavares


Este foi para mim sem dúvida o melhor livro que li em 2010.
Gonçalo M. Tavares com este livro único e original, vem mostrar que a boa Literatura Portuguesa ainda existe.
"Uma Viagem à Índia" é um livro difícil de descrever, porque apesar de a história que este livro conta ser relativamente simples, a estrutura do livro e toda a sua subjectividade e conotações são muito complexas e cheias de paralelismos.
O livro conta-nos a história de Bloom que após uma série de acontecimentos trágicos que serão contados durante o decorrer da acção, decide partir de Portugal, mais precisamente de Lisboa e seguir numa viagem de "auto-conhecimento" e ao mesmo tempo de esquecimento do seu passado.
Bloom decide então ir à Índia, terra mística, de grandes sábios, onde pensa ele, irá adquirir conhecimentos e refazer a sua vida libertando-se do seu passado. Como essa viagem será de introspecção, não vai directamente para a Índia, vai primeiramente conhecer vários países e cidades tais como: Londres, Paris, Praga, onde irá passar por uma série de peripécias boas e más e conhecer também outras personagens que serão importantes para o desenrolar da acção.
Apesar de o tema da história ser já de si interessante e com muito "pano para mangas", o que torna realmente único neste livro não é isso.
Como disse no início, este livro está cheio de paralelismos, e o mais evidente e directo, é com "Os Lusíadas" de Luis Vaz de Camões.
Tal como "Os Lusíadas" este livro também trata de uma "viagem de descoberta à Índia", uma epopeia, neste caso não de um povo, mas sim de uma só pessoa e tal como os Portugueses e Vasco da Gama, também Bloom sofre várias peripécias e adversidades para lá chegar.
Apesar disto tudo, a ligação mais directa com a obra de Camões é mesmo o aspecto gráfico do livro.
"Uma Viagem à Índia", tal como "Os Lusíadas", encontra-se dividida em dez cantos, e apesar de não ser poesia está escrito como tal, tendo cada canto cerca de cem estrofes, (uns menos, outros mais), traz também no fim do livro uma espécie de esquema com o nome de "Melancolia contemporânea (Um Itinerário) em que cada canto é resumido através de palavras chaves.
Além de "Os Lusíadas", outro paralelismo que existe nesta obra é com o "Ulisses" de James Joyce, onde ele vai buscar o nome do personagem principal "Bloom" e a ideia de um Épico moderno e urbano, baseado numa só personagem.
Este livro é uma obra muito complexa, apesar de à primeira vista não parecer, mas depois de se começar a ler e se indo cada vez mais "afundando" na sua "profundidade interior" e ler as "entrelinhas", tudo aquilo que o Gonçalo M. Tavares nos diz não no texto mas sim no que está subjacente a ele, depressa se percebe que estamos perante uma obra intensa e fabulosa.
O livro traz também um prefácio de um dos maiores pensadores e ensaístas portugueses contemporâneos, Eduardo Lourenço, que nos introduz de uma excelente forma a este livro.
Já o disse várias vezes e não sou só eu, muita gente ligada ao livro, às letras, à arte e cultura e ao mundo editorial, que o Gonçalo M. Tavares ainda vai dar muito que falar na literatura portuguesa e internacional. 

Prendas de Natal


Apesar de o Natal já ter sido à uma semana e de já estarmos em 2011, aqui ficam à mesma os livros que me foram oferecidos neste último Natal, sendo assim temos:

"Histórias Daqui e Dali" - Luís Sepúlveda, (que entretanto já foi lido).
"100 Filósofos" - Jean-Clet Martin
"Wolf Hall" - Hilary Mantel