sábado, 30 de abril de 2011

A minha whishlist

Por esta altura do ano, já sairam inúmeras edições de livros, sejam de livros novos escritos por autores novos, livros novos de autores velhos, ou reedições de livros velhos, etc., etc..
Eu após exaustiva pesquisa tanto aqui pela net, (principalmente nos sites das editoras e nos blogues literários), como em papel na imprensa especializada e (acima de tudo) nas minhas visitas às livrarias, escolhi de entre os vários livros que gostava de ler e ter, três que espero que façam parte da minha biblioteca brevemente.
Os livros em questão sao:


"O Cemitério de Praga", o último de Umberto Eco, um grande escritor e pensador da actualidade cujas obras, nomeadamente os romances históricos são sempre de um rigor e de uma escrita fabulosa.



"Liberdade", o romance, de Jonathan Franzen, que o catapultou para os escaparates literários, sendo já considerado pela "Time" como  "great american novelist", recomendado pela Oprah no "Oprah''s Book Club", ou o "fenómeno literário da década" como lhe chamou o "The New York Times", e foi também este o livro que Obama levou para ler nas suas férias.
Franzen inclusivé já tinha  vencido o "National Book Award" em 2002 com o seu livro anterior, "Correcções"
Acho que estes são motivos mais do que suficientes para aguçar-me a curiosidade.


Finalmente o terceiro livro desta "whishlist" é a nova reedição de "Os Budden Brook" de Thomas Mann, autor que dispensa apresentações e que nunca me deixa de surpreender e de gostar mais a cada livro que leio dele.
E pronto aqui estão os livros que me deixaram "com a pulga atrás da orelha" e que espero conseguir adquirir e ler o mais depressa possível.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Tratado das Paixões das Almas - António Lobo Antunes

Imaginemos que Portugal numa época não especificada, mas que aparenta ser nos princípios dos anos 90 do século passado, é assolado por um grupo terrorista de esquerda, de inspiração maoísta, que faz atentados, assaltos, etc., tal como um I.R.A. ou uma E.T.A.
Imaginemos que é criada uma brigada especial da polícia chefiada por um juiz de instrução e que é apanhado um terrorista que por acaso é um amigo de infância desse mesmo juiz que chefia as investigações.
António Lobo Antunes, com este mote traz-nos mais outro livro fabuloso, cheio de ironia e que com o seu estilo inconfundível de escrita explora o lado mesquinho das pessoas.
Apesar de estar dividido em seis partes, este livro pode-se dividir em duas grandes partes principais, a primeira parte aborda e explora a relação entre o juiz, que como atrás disse é escolhido pelo próprio governo para chefiar as investigações e o interrogatório do "homem" (seu amigo de infância) um elemento de uma célula do grupo terrorista que assola Portugal e que foi capturado pela polícia, sendo que a segunda parte se foca nas pequenas estórias dos intervenientes da acção, tais como os restantes elementos do grupo terrorista e outras personagens periféricas e também nas acções levadas a cabo pela polícia para a captura do grupo terrorista. 
A estória da amizade entre o juiz e o homem, é complicada, são amigos de infância, mas o juiz é filho de pais pobres e humildes sendo o pai um alcoólico e que vêm da província para Lisboa para trabalharem como caseiros na quinta de Benfica que pertence aos avós do Homem.
O Homem, cuja mãe morreu num acidente de automóvel e o pai que ficou com graves deficiencias mentais devido ao mesmo acidente, vive com os avós e é um autentico "menino de bem".
Ambos quando crianças partilham de brincadeiras, partidas, aventuras, sendo que muitas vezes (ou quase sempre) o juiz é "usado" pelo homem e fica sempre com as culpas quando as coisas correm mal e são apanhados a fazerem "asneiras". Entretanto vão crescendo, o juiz torna-se num aluno aplicado, vai para a universidade e consegue ser juiz e o homem, sempre preguiçoso, sem ambição não segue os estudos e vai trabalhar para a companhia de seguros do avô mas num nível inferior e com a idade vão-se separando e perdendo a amizade um pelo outro.
Até que o homem que foi aliciado por um colega de trabalho que pertence aos terroristas e o recruta, cai numa armadilha e é capturado pela polícia. O juiz escolhido por causa da sua ligação com ele em criança inicia os interrogatórios, e é aí que vê (lê) a mestria da escrita de Lobo Antunes, que intercala passado com presente de uma forma natural e fluida sem nunca baralhar o leitor.
A seguir aos interrogatórios, o Homem é solto mas a trabalhar para a polícia de forma a ajudar na captura dos restantes elementos do grupo terrorista e a partir daqui Lobo Antunes pega nas pequenas estórias dessas diversas personagens e com muita ironia e até com alguma comédia traça um retrato de Portugal da época, os seus vícios, as suas "vigarices" e "esquemas", os abusos de poder, a política, a falsidade e a traição.
Fala também da decadência, do Portugal do antes 25 de Abril 1974, o Portugal das grandes famílias, quase ainda feudal que se transforma com uma rapidez impressionante  num Portugal de acelarado urbanismo descontrolado e valores e ideais totalmente diferentes dos anteriores.
Dos diversos livros de Lobo Antunes que já li, este foi sem dúvida o mais simples de ler e o mais divertido e irónico, gostei bastante e até o aconselho a quem nunca leu Lobo Antunes e se queira iniciar na sua leitura.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

A Autêntica - Saul Bellow


Saul Bellow, escritor Norte-Americano e vencedor de um Nobel, geralmente escreve sobre homens de meia-idade, solitários, amargos com a vida, num ambiente urbano e intelectual e judeus como ele. Por isso este seu livro "A Autêntica" não podia fugir muito a esta temática.
"A Autêntica" traz-nos a estória de Harry Trellman, um homem de meia-idade, solteiro e muito reservado que por ter uma certa aparência oriental e outras razões, sai dos Estados Unidos e vive vários anos no oriente, sendo uma espécie de comerciante de antiguidades orientais e contrabandista.
Harry Trellman depois de viver tantos anos no oriente decide regressar aos Estados Unidos, nomeadamente à sua Chicago natal, cidade essa à qual ele tem uma ligação muito especial.
Em Chicago Trellman funda a sua empresa de antiguidades e começa a dar-se com pessoas ricas e influentes e é num jantar social que conhece Adletsky, um multi-milionário e ambos tornam-se muito amigos e confidentes.
Em Chicago também vai reencontrar Amy Wustrin, sua namorada quando jovens, mas que depois se casou com o seu amigo Jay.
Trellman nunca deixou de amar Amy durante toda a sua vida, mesmo quando era casada com Jay que entretanto já tinha falecido e com uma pequena ajuda de Adletsky, vai refazer a sua vida.
Este livro de Bellow é carregado de emoções, de arrependimentos e amor, mais uma vez ele consegue mostrar o lado emocional masculino.
Apesar de achar o livro pequeno (só tem 137 páginas) e muito mais podia ser explorado, adorei-o, tal como os livros que já li dele, "Ravelstein" e "Morrem Mais de Mágoa" que foi recentemente reeditado pela Quetzal.
Para quem nunca leu Bellow recomendo qualquer um deles.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Wolf Hall - Hilary Mantel

Wolf Hall, da escritora inglesa Hilary Mantel, é provavelmente um dos melhores romances históricos dos últimos anos.
Para além de romance histórico, este livro é também uma excelente obra literária e foram todos estes argumentos que lhe valeram para receber o prestigiado "Man Booker Prize" em 2009.
Hilary Mantel com este seu livro traz-nos a história de Thomas Cromwell, uma das maiores figuras da Inglaterra do séc. XVI e mostra-nos através dele um periodo muito conturbado da história da Inglaterra.
O livro começa com um pouco da infância de Cromwell, oriundo do povo, filho de um ferreiro que constantemente o maltrata e que em adolescente foge de casa e vai correr a Europa.
A acção retoma anos mais tarde já com Cromwell de volta à Inglaterra, um advogado e comerciante respeitado e também secretário do Cardeal Wolsey, a figura principal de Inglaterra depois do rei.
Nesta altura reina Henry VIII, casado com Catarina de Aragão que já tinha sido esposa do seu falecido irmão o rei Arthur.
Henry, entretanto desiludido com a sua esposa e com apenas uma filha (a futura rainha Mary), visto que todas as outras crianças que teve morreram, apaixona-se por uma jovem cortesã, Anne Boleyn. A partir daqui inicia-se toda uma série de intrigas, jogos políticos, ambições, traições que levam à queda do Cardeal Wolsey e à ascenção de Cromwell.
Cromwell era um homem de visão, organizado e metódico, um excelente estadista que aos poucos e poucos foi alterando toda a política da Inglaterra que nessa época era um país muito atrasado e feudal, enquanto os outros países da Europa gozavam já um enorme avanço tanto político-económico, como o caso de Portugal e Espanha (estamos no periodo aúreo do Império Português com D. João III no trono), como científico e artístico como nos Reinos de Itália, com o Renascimento. É igualmente uma época de grande conflito espiritual com a ascenção do Calvinismo e do Luteranismo no norte da Europa e as lutas e revoltas religiosas.
Cromwell aproveitando o facto de o Papa Clemente não reconhecer o divórcio de Henry VIII com Catarina de Aragão, criou o "Acto de Supremacia" em que dava poder sobre a igreja ao rei de Inglaterra e não ao Papa, criando assim a igreja Anglicana.
Com esta lei Henry VIII, pode divorciar-se e casar novamente com Anne Boleyn, mas esta também só lhe dará uma filha, a futura rainha Elizabeth I.
Evidentemente que esta lei não agradou ao clero e ao povo inglês que eram obrigados a aceitar a lei ou a sofrerem diversas consequencias, uma delas terá sido a morte de outra grande figura da Inglaterra desta época, Thomas More (mais tarde tornado santo e mártir pelo Vaticano), que se recusou a aceitar e foi condenado à decapitação.
O livro termina com a morte de More, mas muito mais sucedeu após isso, não sei se a Hilary Mantel irá fazer outro livro com o resto da vida de Cromwell ou não, mas este já é bom o suficiente.
O livro denota um grande trabalho de investigação e rigor histórico, os factos estão bem ficcionados e a estória corre muito fluida e bastante fácil de se ler.
Gostei muito do livro, o prémio que recebeu é sem dúvida mais que merecido e vale bem a pena ler.

sábado, 9 de abril de 2011

Karl Marx Biografia - Francis Wheen


Practicamente desde o início do ano que não posto nada aqui no blog, isso deveu-se a várias razões, desde à minha vida profissional que sofreu uma mudança, a outras de âmbito pessoal, mas a maior razão de todas elas foi pura e simplesmente a preguiça e a falta de vontade para fazer as "reviews" dos livros que li durante este periodo de ausência (que já vão em 28, quase 29).
Mas hoje decidi acabar com esse periodo de preguiça mental e voltar a fazer as "reviews" e a dar as minhas opiniões sobre os livros que leio.
O livro que trago para este regresso, é uma biografia sobre Karl Marx, do jornalista Britânico Francis Wheen.
Karl Marx é sempre um nome que nos traz à memória coisas más, regimes opressivos, a ex U.R.S.S., a repressão que foi feita em nome das suas teorias, os gulags, perseguições políticas, "Guerra Fria", etc..
Tudo isto de facto aconteceu debaixo do "Marxismo", mas será que este "Marxismo" foi de facto o que Karl Marx criou, descreveu e lutou durante toda a sua vida?
Francis Wheen, jornalista Britânico, que trabalhou em vários jornais e revistas de referencia ingleses e também na BBC, vem com esta biografia mostrar-nos o lado mais humano e real de Karl Marx e desmistificar muito do que se diz ou se pensa sobre Karl Marx.
Karl Marx nascido na Alemanha numa família de pequena burguesia e de ascendencia judia, desde muito cedo se revelou uma pessoa com uma inteligencia muito acima da média, mas também com um temperamento muito peculiar. Na sua juventude e apesar de ir contra a vontade dos pais começa a estudar filosofia, particularmente a de Hegel que muito contribuiu para a construção dos seus ideais e filosofia, estudando nas Universidades de Bona, Colónia e Berlim. Nestas cidades Marx dedicava-se igualmente à boémia, percorrendo os cafés e tabernas e as tertúlias onde começou a interessar-se pela política.
A partir daqui toda a sua vida começa a ser dominada pela política e pela "luta de classes", escreve em vários jornais, é perseguido e obrigado a fugir para vários países da Europa até que se estabelece de vez na Inglaterra onde viverá a maior parte da sua vida e onde serão escritas as suas obras mais importantes incluindo a sua obra-prima "O Capital".
Mas como atrás disse esta biografia mostra-nos também o lado humano de Marx, a sua vida íntima, o seu amor incondicional à sua esposa "Jenny", aos seus filhos que morreram quase todos antes dele, a sua vida de miséria e provações, as suas lutas com os seus inimigos e a sua amizade de uma vida com Engels.
Nesta biografia outra coisa que se vê é que Marx apesar de sempre lutar contra as desigualdades, nunca deixou de cultivar uma vida de pequeno burguês, chegando a passar dificuldades e a contrair enormes dívidas para sustentar essa imagem para ele e para a sua família, o que contradiz de todo a imagem de "revolucionário" que se criou à volta de Karl Marx.
Gostei muito de ler esta biografia, é bastante fácil de se ler, não entra em "dissertações filosóficas ou políticas", apenas mostra Marx como uma pessoa igual a todas as outras com as suas lutas, alegrias e angústias.