Mário Cláudio escritor e poeta, nascido no Porto e com uma
vasta obra literária, mostra nos neste seu “Amadeo” que um livro não precisa de
ser extenso para ser uma grande obra literária.
O tema principal neste livro é a biografia “romanceada” do
grande pintor português do início do século XX Amadeo de Souza-Cardoso. Mas
para isso Mário Cláudio usa uma história paralela que serve de suporte à
biografia do pintor.
Temos então duas acções paralelas que apesar de distintas
uma da outra se complementam entre si.
A acção inicia-se com a biografia em si, com uma descrição
da famosa casa de “Manhufe” em Amarante, o
ambiente da casa, as criadas, o caseiro, a cozinheira e de tudo à volta dela, o
Marão, os campos, a natureza Transmontana e depois é intercalada com o início
da outra acção onde na forma de um diário, em que o narrador (cujo nome só
saberemos no fim do livro) vai-nos mostrando como a biografia está a ser
construída por “Papi” seu tio, um médico retirado cocainómano que vive
atormentado pela escrita da biografia de Amadeo e pela decadência da sua quinta
em que ambos vivem juntamente com uma criada alcoólica o marido e seus filhos.
A partir daqui as duas narrativas vão crescendo e tal como
disse atrás complementando-se, Amadeo passa da infância para a adolescência,
vai para Coimbra estudar, depois para Lisboa, desilude-se com Portugal, vai para Paris, onde tem uma relação conturbada com outros
portugueses, partilha um estúdio com o pintor italiano Modigliani, casa-se com
Lúcia, regressa a Portugal aquando da I Guerra Mundial onde acaba por falecer
de pneumonia. Tudo isto intercalado com o diário do narrador que conta também
os infortúnios de “Papi”, a investigação e a dificuldade que tem com a construção
da biografia e a sua própria decadência.
No final, ambas as histórias terminam com um final trágico,
a morte de Amadeo e… (têm de ler o livro para saber)
Neste livro que apesar de pequeno Mário Cláudio mostra-nos
toda a sua mestria como escritor, utilizando uma linguagem cuidada e (a meu
ver) melancólica, dando um ambiente emotivo e de época.
Com este livro Mário Cláudio recebeu o Grande Prémio de
Romance e Novela da Associação Portuguesa de Autores.
Falta dizer que li a edição de bolso da colecção “BIIS” da
Leya e não consegui descobrir mais nenhuma edição (e mesmo esta foi difícil).
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