quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Dia de Natal - António Gedeão


Feliz e Santo Natal na companhia de quem mais amam, são os meus votos a todos(as) que frequentam o "O Que Eu Leio".

Deixo-vos um poema de António Gedeão, que apesar de ser um poema de Natal não deixa de ser uma crítica à sociedade consumista de hoje, que quase se esqueceu do verdadeiro significado do Natal, do amor, da entreajuda, Paz e amizade entre as pessoas.

Mais uma vez, Feliz Natal a todos(as).
Pipas


Dia de Natal

Hoje é dia de ser bom.
É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,
de falar e de ouvir com mavioso tom,
de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.

É dia de pensar nos outros— coitadinhos— nos que padecem,
de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria,
de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,
de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.

Comove tanta fraternidade universal.
É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,
como se de anjos fosse,
numa toada doce,
de violas e banjos,
Entoa gravemente um hino ao Criador.
E mal se extinguem os clamores plangentes,
a voz do locutor
anuncia o melhor dos detergentes.

De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu
e as vozes crescem num fervor patético.
(Vossa Excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus nasceu?
Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso antimagnético.)

Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas.
Toda a gente se acotovela, se multiplica em gestos, esfuziante.
Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas
e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante.

Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates,
com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica,
cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates,
as belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de cerâmica.

Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito,
ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores.
É como se tudo aquilo nos dissesse directamente respeito,
como se o Céu olhasse para nós e nos cobrisse de bênçãos e favores.

A Oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento.
Adivinha-se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar.
E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento
e compra— louvado seja o Senhor!— o que nunca tinha pensado comprado.

Mas a maior felicidade é a da gente pequena.
Naquela véspera santa
a sua comoção é tanta, tanta, tanta,
que nem dorme serena.

Cada menino
abre um olhinho
na noite incerta
para ver se a aurora
já está desperta.
De manhãzinha,
salta da cama,
corre à cozinha
mesmo em pijama.

Ah!!!!!!!!!!

Na branda macieza
da matutina luz
aguarda-o a surpresa
do Menino Jesus.

Jesus
o doce Jesus,
o mesmo que nasceu na manjedoura,
veio pôr no sapatinho
do Pedrinho
uma metralhadora.

Que alegria
reinou naquela casa em todo o santo dia!
O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas,
fuzilava tudo com devastadoras rajadas
e obrigava as criadas
a caírem no chão como se fossem mortas:
Tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá.

Já está!
E fazia-as erguer para de novo matá-las.
E até mesmo a mamã e o sisudo papá
fingiam
que caíam
crivados de balas.

Dia de Confraternização Universal,
Dia de Amor, de Paz, de Felicidade,
de Sonhos e Venturas.
É dia de Natal.
Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.
Glória a Deus nas Alturas.

António Gedeão

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

A Cidade Sem Tempo - Enrique Moriel


A Cidade Sem Tempo do Enrique Moriel, pseudónimo de Francisco González Ledesma, reconhecido escritor e jornalista Espanhol é sem dúvida daqueles livros que quando se começa a ler não se consegue parar mais.
A acção começa na Barcelona dos dias de hoje com a morte de um grande industrial de forma misteriosa e com o seu advogado, Marcos Solana juntamente com o padre da família, Padre Olavide a tentarem arranjar explicação para essa morte.
Juntamente com o advogado Solana trabalha uma bela estagiária, Marta Vivres que vai ser uma pedra fucral para o desenrolar da estória.
Paralelamente a esta acção, existe outra, a estória de um ser, que nasceu na Idade Média e que é imortal, um vampiro.
Sim, este livro tem como personagem principal um vampiro, mas este vampiro (que se pode considerar um vampiro bom, apesar de beber sangue humano de vez em quando), vai nos acompanhar e mostrar a evolução da cidade de Barcelona e do seu povo desde a Idade Média até aos dias de hoje, sendo perseguido por outro ser, do lado da igreja numa luta entre o bem e o mal onde a estagiária Marta Vivres também está envolvida sem o saber.
Moriel (Ledesma), com este livro para além de nos contar a história temporal, social e arquitectónica de uma das belas cidades do mundo como é Barcelona, traz-nos também a eterna luta do bem contra o mal, de Deus contra o Diabo, mas com uma visão deveras surpreendente, que se resume nesta pergunta: "que prova temos de que no combate entre o bem e o mal, entre Deus e o Diabo, ganhou o primeiro?"
Mais uma vez, tal como nos livros de Ruiz Zafón, A Sombra do Vento e o Jogo do Anjo, o ambiente gótico e misterioso de Barcelona é explorado sendo a cidade a personagem principal do romance.
Este livro, apesar de uma das personagens ser um vampiro (tão em moda actualmente), é bastante bem estruturado e com uma grande veracidade e pormenor histórico - social, não é sem dúvida um livro para "adolescentes apaixonadas".
Fiquem bem
Pipas


terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Os 75 anos de "Mensagem" - Fernando Pessoa

Faz hoje 75 anos que foi publicado o único livro de Fernando Pessoa, enquanto vivo, "Mensagem"
Livro de poemas que exalta o espírito simbolista e esotérico de Portugal.
Para comemorar esse facto a editora Guimarães lançou uma edição de 2500 exemplares em fac-símile do dactiloescrito que Pessoa entregou para edição.
Para mais informação ler aqui .
Vamos ver se consigo adquirir um exemplar para mim...
Pipas

Terra Sonâmbula - Mia Couto

Por há muito ouvir dizer muito bem deste livro, resolvi pegar nele, sendo que agora percebo porque se diz tão bem dele, é dos livros mais bonitos que li nos últimos tempos.
Durante a década de 90, e em plena guerra civil em Moçambique, Mia Couto traz-nos duas estórias paralelas mas que se entrelaçam entre si, primeiramente temos um menino (Muidinga) que viaja com um velho (Tuahir), que o recolheu e salvou da morte num campo de refugiados.
Ambos fugidos da guerra e da fome, caminham estrada fora até que encontram um machibombo (autocarro), que fora atacado, destruido e queimado na estrada. Aí resolvem ficar e descobrem entre os pertences dos mortos uma mala com uma série de cadernos que servem de diários.
A partir daqui começa o desenvolver de ambas as estórias a de Muidinga e Tuahir, e a de Kindzu, autor e protagonista das aventuras relatadas nos cadernos.
Mia Couto com este livro, consegue no seu estilo inconfundível e alegre de escrita fazer uma descrição do horror que foi a guerra em Moçambique, uma crítica ao oportunismo que se vivia na época e ao mesmo tempo misturar as lendas, crenças, misticismos e viveres africanos numa estória de amizade e de sobrevivência.
Este livro ganhou diversos prémios e já foi adaptado ao cinema, tendo como realizadora Teresa Prata tem a particulariedade de apenas ter dois actores profissionais, sendo o restante elenco amadores e pessoas dos sítios onde o filme foi filmado.
Gostei mesmo muito deste livro.
Pipas

2666 - Roberto Bolaño

Acabadinho de comprar, edição especial, estou desejoso de o começar a ler...

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

À Beira do Fim


Há um género literário (dentro de vários) que ainda não falei aqui no blog, que é a Ficção Científica.
A Ficção Científica, é um género literário que infelizmente ainda é olhado um pouco de lado pelo meio literário, por vezes até considerado de "segunda" mas que eu aprecio bastante.
Recententemente tive oportunidade de adquirir uma série de livros deste género literário editados na colecção Caminho de Bolso, os famosos livros azuis (Ficção Científica) e pretos (Policiais), que bastante divulgou este género e nos deu a conhecer tantos e bons autores entre eles vários Portugueses.
O livro que eu escolhi para iniciar a leitura destes livros, é um que já é considerado um clássico, chama-se À Beira do Fim, no original Make Room!, Make Room! do escritor Harry Harrison.
Como atrás referi, este livro é um dos mais conhecidos dentro do género, foi editado primeiramente 1966 e ganhou vários prémios entre eles o Prémio Nébula, (considerado o "Nobel" da Ficção Científica) e serviu de base também a um filme de 1973 (mas com um argumento diferente da história do livro), com Charleston Heston no papel principal.
Este livro mostra-nos um planeta Terra no ano de 1999 (para nós já passado, mas ainda muito longínquo no ano em que foi escrito o livro), super-povoado, poluidíssimo, sem combustíveis, com escassez de comida e água, de matérias - primas, etc., e que cuja acção se passa numa Nova Iorque à beira da ruptura.
Adrew Rusch um polícia nesta Nova Iorque decadente e super-povoada é destacado para investigar um homicídio de um "figurão" do crime organizado da cidade que vai "incomodar" muita gente e a partir daí, toda a sua vida se vê alterada para sempre afectada por uma profusão de acontecimentos que evoluem e que estão ligados ao crime e paralelamente à própria vida na cidade e no mundo.
Tendo por base um policial, este livro aborda muitas e pertinentes questões, que hoje mais do que nunca têm directamente a ver com a nossa sociedade actual.
O autor em 1966, previa um mundo com excesso de população em que o Homem com a sua ganância esgota os recursos do planeta, extingue a maioria das espécies animais e vegetais, polui e destroi, coisas estas que (felizmente) ainda não aconteceram mas que por vezes já se vislumbram no nosso horizonte, nomeadamente no aquecimento global, alterações climáticas, a quase e até mesmo a já extinção de espécies animais e vegetais, o excessivo crescimento populacional o uso excessivo de combustíveis fósseis, etc., se o Homem não tomar medidas enérgicas para isso não acontecer, brevemente vai haver a conferência de Copenhaga e estou esperançoso que os vários governos principalmente dos grandes países tomem mais medidas e resoluções para evitar este cenário catastrófico.
Outro assunto também aqui abordado é o do controlo da natalidade e planeamento familiar, questão complexa (ainda mais na época em que o livro foi escrito), em que o autor mostra uma sociedade dividida sobre esse assunto, tendo de um lado os cientistas e os apoiantes do controlo de natalidade e do outro a igreja e o fanatismo religioso a contestar esse controlo.
Este livro apesar de toda esta temática, lê-se extremamente bem, não é muito grande (195 páginas) e na minha opinião toda a gente devia de o ler, para se ter uma pequena sugestão do que o nosso mundo poderá vir a ser se não tivermos cuidado com ele, é sem dúvida o exemplo perfeito de como um livro com cerca de 43 anos se mantém tão actual, poderia ter sido escrito ontem, hoje ou amanhã.

domingo, 11 de outubro de 2009

A Morte de Bunny Munro - Nick Cave



Terminei recentemente de ler este livro e adorei-o!
Nick Cave com este livro prova que não é apenas um escritor de canções mas que tem também a qualidade e o talento para escrever bons livros.
A história de A Morte de Bunny Munro é fenomenal, mostra como um homem cuja vida lhe corre sem quaisquer problemas, pode de repente entrar numa espiral de decadência e perder toda a sua confiança e auto-domínio caindo quase na loucura. Este livro é igualmente como um "On The Road", sendo passado na maior parte do tempo entre viagens de carro e quartos de hotéis.
Bunny Munro, vendedor ambulante de produtos de beleza de mulheres, é um homem com boa aparência, bem sucedido, casado e com um filho, mas com uma sexualidade muito activa, exagerada mesmo, não consegue viver sem sexo, e com isso faz sexo com qualquer mulher que pode, (mesmo que tenha de usar métodos duvidosos) e quando não tem mulher, recorre frequentemente à masturbação.
Após o suicídio de sua mulher, provocado por causa de uma depressão devido às suas infidelidades e taras sexuais, Bunny vê-se sozinho juntamente com o seu filho de 8 anos.
Incapaz de resolver esta nova situação na sua vida, e sem o apoio dos avós do filho, resolve ir com o ele numa viagem de trabalho e iniciação. Viagem essa em que Bunny aos poucos e poucos vai passando por diversos acontecimentos e situações que lhe vão destruindo a sua confiança e bem estar, entrando com isso numa espiral de decadência total e quase loucura culminando com a sua morte.
As personagens são fantásticas, sendo que a de Bunny Jr. de uma sensibilidade extrema, com uma inteligência fora de série para um miudo de 8 anos e com um amor incondicional pelo pai, sendo ele a unica coisa que impede Bunny (pai) de cair totalmente na loucura.
A linguagem do livro é um pouco "dura" e "pornográfica", mas não caindo na ordinarice, mas é essa mesma linguagem um dos pontos que torna este livro tão bom e que sem ela não iria fazer sentido nenhum, li o livro em apenas dois dias de tão cativante que era.
Recomendo-o a todos.
Pipas
P.S. Depois de ler este livro acho que nunca mais vou ver a Kylie Minogue e a Avril Lavigne da mesma forma que via antes... LoL

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Sangue de Dragão - Ana Vicente Ferreira



"Aelanna sempre odiou aquilo que a tornava diferente dos outros elfos: o sangue de dragão, herança de um pai há muito desaparecido. Com a leitura do diário de um antepassado seu, pensa ter encontrado a solução para o seu problema. Parte então com Kels, em direcção ao Sul. Durante a viagem, Aelanna será obrigada a rever tudo o que sempre lhe fora ensinado sobre o mundo. Quando o elfo Ghyalt se junta ao grupo, Aelanna fica aliviada por ter alguém que partilha a sua mundividência. Mas Ghyalt trai-los-á a todos, desencadeando uma ameaça contra a qual toda a resistência parece inútil."
Sinopse retirada da capa.

Este é o primeiro livro, da autora Portuguesa Ana Vicente Ferreira, bastante bem concebido e escrito dentro de uma área tão concorrida como é a fantasia.
Não é nenhum "Senhor dos Anéis", mas consegue prender o leitor com a ambiência do mundo fantástico criado pela autora e pela acção em si.
As personagens estão bem estruturadas e sustentadas, o ritmo da acção após (a meu ver) um princípio um nadinha confuso, corre bastante bem e fluido.
Gostei bastante do livro e acredito que a Ana Vicente Ferreira tem potencial para fazer ainda melhor.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Deixem Passar o Homem Invisível - Rui Cardoso Martins

Recentemente terminei de ler o segundo livro de Rui Cardoso Martins que é este "Deixem Passar o Homem Invisível".
Rui Cardoso Martins, já com o seu "Se Eu Gostasse Muito de Morrer", tinha-me impressionado bastante pela positiva e dava mostras do seu enorme talento, mas agora com este seu último trabalho vem confirmar isso mesmo, uma enorme qualidade literária e uma grande sensibilidade.
Este livro é a história de António, um advogado cego devido a um acidente desde os seus sete anos de idade e de João, um escoteiro com oitos anos e com uma personalidade fantástica, que num dia de chuvadas torrenciais e por vicissitudes da vida, caiem ambos num buraco provocado pela enxurrada, num túnel de esgoto antigo.
A partir daqui António e João vão percorrendo o túnel que atravessa a cidade em busca da sua salvação. Passando por diversas peripécias, desde serem atacados por ratos a descobrirem esqueletos humanos, António e João vão criando um afecto muito grande um pelo outro, um sentimento de amizade muito profundo mas sem saberem que as suas vidas já se tinham cruzado anteriormente.
Paralelamente à superfície com as equipas de salvamento que procuram os desaparecidos, encontra-se Serip, mágico, ilusionista e até mesmo filósofo, amigo de António que é uma personagem bastante peculiar e activa e que muito contribui para o desenvolvimento da história e Madalena uma arqueóloga que descobre o mapa do túnel.
Durante a acção, as personagens fazem também retrospectivas da sua vida e dão-nos a conhecer toda a sua vida, pensamentos e desejos mais íntimos, fazendo uma espécie de expiação da mesma.
Tal como no livro anterior, este também serve de crítica e ironia à nossa sociedade, costumes e à forma de viver do Homem actual.
O livro lê-se bastante bem, são cerca de 230 páginas que nos prendem desde o início até um final totalmente inesperado e inconclusivo.
Gostei bastante do livro.
Pipas

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Jorge de Sena

Aproveitando o facto de ter sido feita hoje a trasladação dos restos mortais de Jorge de Sena e em complemento ao meu post no Pipasblog sobre este assunto, deixo aqui um poema dele que a meu ver seria o pensamento dele sobre todo este assunto.

"Ser um grande poeta
morto ou nacional
é atrair as moscas
como idiotas e
os idiotas como moscas.

Ser um poeta medíocre
vivo e universal
é atrair os catedráticos
de literatura como
idiotas e moscas

Ser um poeta apenas
nem vivo nem morto
ou nacional ou universal
é atrair apenas os poetas
como moscas idiotas

Moralidade: não há saída."

Jorge de Sena

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Inês de Portugal - João Aguiar


Boas, continuando "numa" de romances históricos, ontem peguei e li de uma "enfiada" um pequeno grande livro de João Aguiar que é este "Inês de Portugal".
Como de certeza já se aperceberam este livro trata dessa grande história de amor proibido entre o rei D. Pedro I e a aia de sua esposa, a Inês de Castro, que tanta tinta já fez correr na literatura Portuguesa desde Camões a António Ferreira.
Este história, inicialmente concebida como argumento/guião para o filme com o mesmo nome, foi adaptado e publicado como livro.
A acção do mesmo começa algum tempo após a morte de Inês, com a chegada como prisioneiros de dois dos culpabilizados pela morte dela, Álvaro Gonçalves e Pero Coelho. Partindo daqui, a trama desenrola-se em saltos temporais, sendo contada através da figura de Álvaro Pais, conselheiro do Rei, toda a história passada e presente, desde o início do amor de Pedro por Inês, à guerra com seu pai devido à morte de Inês e por fim ao castigo dos assassinos de Inês e respectiva quebra ao juramento que tinha feito a sua mãe.
O livro é pequeno, tem pouco mais de 100 páginas (li a edição da BisLeya), mas é bastante empolgante, uma história que nos prende do princípio ao fim, com bastante rigor histórico, algumas intrigas palacianas à mistura e com uma nota do autor no final onde ele explica o que é verídico e o que é ficcionado.
Gostei bastante.
Fiquem bem
Pipas

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Sharpe - Bernard Cornwell


Boas amigos(as), como várias vezes referi, um dos géneros literários que mais aprecio é o romance histórico, já vos falei da série "O Capitão Alatriste" de Perez-Reverte, de "Os Romanos" de Max Gallo e da série "Master and Commander" de Patrick O' Brian.
Hoje venho falar-vos de outra série que tenho lido ultimamente, (já li cerca de 4 livros da série) e que se passa na mesma época histórica que a série "Master and Commander, ou seja durante as guerras Napoleónicas, e que são as aventuras do fuzileiro Richard Sharpe.
Richard Sharpe é um soldado dos fuzileiros reais de Inglaterra que tem uma infância atribulada, nasce nos finais do século XVIII, filho de uma prostituta e de pai desconhecido, cedo se torna orfão, vive na miséria, e sobrevive de pequenos crimes até que para escapar à justiça se oferece como voluntário para o exército real.
É colocado na Índia onde participa em várias campanhas onde se vais distinguindo devido à sua coragem e à sua perícia como soldado. É na Índia que conhece e se torna "protegido" do famoso general Arthur Wellesley, (mais conhecido como Duque de Wellington), após lhe salvar a vida numa batalha.
A parte mais conhecida da série e a qual eu já li alguns livros como atrás referi e que igualmente se encontra traduzida em Português, são as suas aventuras na chamada "Guerra Peninsular", em Portugal e em Espanha, onde Sharpe vai passando por várias aventuras e batalhas determinantes do desenrolar das Guerras Napoleónicas, nessas aventuras vai ganhando o respeito e a liderança dos seus homens, progredindo na carreira devido ao seu valor e não à sua riqueza, visto que naquela altura os postos de oficiais eram comprados e não atribuidos.
Sharpe é uma personagem sólida, um homem de coragem, inteligente, um grande líder e que tal como o autor o descreve, "Não é um oficial mas também não é um soldado".
Nesta série, Cornwell descreve-nos igualmente e com um grande rigor histórico, essa época atribulada que foi a guerra contra Napoleão, descreve as batalhas com um grande realismo, bastantes pormenorizadas tal como a vida, equipamentos, armas e fardas dos soldados da época sejam eles Ingleses, Franceses, Portugueses ou Espanhóis.
Nota-se um grande trabalho de investigação e como disse um grande rigor histórico, os livros são bastantes fáceis de ler, as histórias apetitosas e viciantes, dando vontade de ler os livros todos da série (coisa que conto fazer).
É uma boa sugestão para uma leitura descontraída e empolgante.
Bernard Cornwell para além das aventuras de Sharpe tem também várias obras dentro romance histórico mas passadas na época do Rei Artur e na Idade Média, igualmente bastante boas e interessantes.
Fiquem bem
Pipas

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

A Montanha da Alma - Gao Xingjian


Olá amigos(as), eu sei que há muito não vinha aqui, mas como já disse em outros posts e no Pipasblog, a minha vida pessoal e profissional de momento não me permite vir até aqui com a regularidade desejada.
Apesar destes inconvenientes pessoais, não deixei de ler evidentemente e como prova disso, hoje venho fazer um post sobre um livro lindo que li à pouco tempo.
O livro em questão chama-se "A Montanha da Alma" e é do escritor Chinês Gao Xingjian.
Gao Xingjian, para além de escritor é também um excelente pintor, dramaturgo e filósofo, um dos maiores pensadores Chineses da actualidade, que venceu o prémio Nobel da literatura no ano 2000.
Gao infelizmente foi reprimido pelo regime comunista chinês, sendo inclusivé preso e enviado para um campo de re-educação durante a "Revolução Cultural" chinesa.
Na década de 60 vem para a Europa e em 1997 assume a cidadania Francesa.
Este livro propriamente dito, descreve uma viagem à China profunda, onde o autor explora de forma metafísica, filosófica e ao mesmo tempo real a vida e quotidiano do povo Chinês.
Partindo do ponto de um encontro entre um Homem e uma Mulher, e a sua busca por uma "Montanha da Alma", perdida algures numa remota região da China, Gao dá a conhecer através de um conjunto de pequenas estórias que se unem entre si e tendo os personagens principais como intervenientes, a História da China, os seus costumes, a sua política, religião e superestições, dando com isso também um carácter de fantástico ao livro.
A Montanha da Alma, convida também à introspecção, a pensar no futuro e no passado e a tentar perceber o que é a vida e para o que ela serve.
É um livro muito interessante, com um enredo onde por vezes o misticismo se envolve com o real, criando uma aura de mistério, mas fabuloso de se ler.
Espero que gostem!
Pipas

quinta-feira, 14 de maio de 2009

As Benevolentes - Jonathan Littell


Boas, sei que há muito não vinha cá ao "O Que eu leio", mas como expliquei no Pipasblog a minha vida profissional deu uma grande volta e infelizmente estou muitas vezes ausente de casa e sem acesso à internet, até mesmo as minhas leituras foram reduzidas um pouco, evidentemente que não deixei de ler e nestes meses li vários livros bastantes interessantes que com pena minha não os comentei aqui no blog.
Entretanto consegui este pouco de tempo livre e decidi pôr aqui um post sobre um livro que terminei de ler recentemente e que muito me impressionou.
O livro chama-se "As Benevolentes" do escritor Norte-Americano (mas radicado em França, aliás o livro foi escrito em francês e não em inglês), Jonathan Littell.
Littell com este grande livro, tanto em tamanho como em qualidade conta-nos através das memórias de um ex oficial das SS alemão, Maximilien Aue, filho de pai alemão e mãe francesa que tem uma infância conturbada, e uma estranha relação com a irmã. Tudo isto vai moldar a sua personalidade e torna-lo numa pessoa bastante instável e com uma sexualidade fora do normal.
É através de Aue e da sua intervenção na guerra que Littell nos dá a conhecer o lado e a perspectiva alemã da guerra, principalmente a guerra na frente Leste, nomeadamente na Ucrania e depois no cerco de Estalinegrado, onde ele descreve com uma exactidão todo o sofrimento e desgraça que se abateu sobre os soldados e população civil, numa das batalhas mais terríveis e sangrentas da II Guerra Mundial, a descrição da vida dos soldados, o frio intenso, a falta de condições as doenças, os mortos, os mutilados, posso dizer que são das páginas mais violentas que li até hoje.
Após ser ferido e regressar a Berlim, Aue (que é formado em direito e jurista), é colocado a trabalhar junto a nomes sonantes da "Solução Final" para o problema dos judeus, trabalha com Himmler; Eichmann e Speer entre outros. Nesta parte do livro, Littell debruça-se sobre os judeus, os campos de concentração, descrevendo os mesmos e com bastante pormenor a brutalidade do tratamento que era dado aos judeus.
Com o aproximar do fim da guerra, e a iminente invasão por parte dos soviéticos, a loucura alemã desses dias foi levada ao extremo afectando igualmente Aue, levando ao final do livro e a sua respectiva fuga.
Este livro como atrás referi é de uma enorme qualidade, recebendo o seu autor dois dos maiores prémios literários franceses, o Goncourt e o Grande Prémio do Romance da Academia Francesa. Apesar disso é um livro que lançou uma enorme polémica, sendo até mal recebido por muita gente e críticos. A meu ver é excelente, talvez dos mais violentos que li até hoje, tanto emocionalmente como psicológica e fisicamente, tem passagens muito "pesadas", descrições terríveis e pormenorizadas, mostra até onde o Homem pode chegar, tornar-se numa "besta", um "monstro" que consegue dizimar milhões de outros seres humanos em nome de um ideal, de uma política e da loucura de um ou alguns homens.
Para mim a parte negativa deste livro (mas que compreende-se que assim seja), são as inúmeras designações em alemão, tanto dos postos dos soldados, das repartições, ministérios, serviços, etc, etc, que obriga a uma constante busca no glossário que vem no fim do livro.
Para quem o queira ler, sugiro que o leia com um estado de espírito livre e com força de vontade porque não é um livro facil de ler devido às razões atrás referidas e às suas 884 páginas.
Espero que gostem, abraço
Pipas

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Edgar Alan Poe - 200 anos


Faz hoje 200 anos que nasceu esse grande génio literário tão incompreendido que foi Edgar Alan Poe.
Edgar Alan Poe, nasceu em Baltimore nos Estados Unidos e teve uma vida curta e conturbada.
Foi um precursor da literatura fantástica, terror e policial, foi igualmente um grande poeta.
Da sua obra podemos destacar "Os Contos Extraordinários", um conjunto de vários contos de cariz fantástica e sobrenatural, "Os Crimes da Rua Morgue", um policial bem elaborado e a "Narrativa Extraordinária de Gordon Pym", uma mistura de literatura de viagens e aventura com o sobrenatural.
Na poesia podemos destacar esse grande poema que é "O Corvo", que foi traduzido para português pela grande mestre Fernando Pessoa.
Alan Poe durante a vida, nunca foi considerado como um grande escritor, viveu sempre em dificuldades e entregou-se ao alcoolismo.
Tal como nos seus livros, até a sua morte está envolta em mistério, foi encontrado na rua, meio louco após um desaparecimento de vários dias, morrendo pouco depois de doença.
Apesar da sua controversa vida, Alan Poe foi um grande escritor que ainda hoje nos delicia com as suas histórias fantásticas, sendo um dos primeiros grandes autores dos Estados Unidos.

História Universal da Infâmia - Jorge Luis Borges

A História Universal da Infâmia, é um pequeno grande livro desse grande autor que é Jorge Luis Borges que é uma delícia de se ler!
Jorge Luis Borges, escreveu este conjunto de pequenos contos/relatos/biografias na sua juventude entre 1933 e 1934 e dá-nos a conhecer de uma forma simples, eficaz, resumida e até mesmo divertida, os nomes e a história da vida de certas personagens que foram autênticos criminosos, assassinos e vigaristas ao longo de vários séculos e locais.
Temos desde pistoleiros do velho oeste como Billy The Kid, a uma mulher pirata chinesa, samurais caídos em desgraça ou pretensos profetas árabes, tudo narrado de uma forma maravilhosa que nos prende da primeira à última página.
Deixo aqui uma nota explicativa do próprio autor sobre esta sua obra: "(A História Universal da Infâmia) são a irresponsável brincadeira de um tímido que não se animou a escrever contos e que se distraiu em fabricar e tergiversar (sem justificativa estética, vez ou outra) alheias histórias. (...) Derivam, creio, das minhas releituras de Stevenson e de Chesterton e também dos primeiros filmes de Von Sternberg e talvez de certa biografia de Evaristo Carriego."
Li a edição da colecção Biis da Leya, que traz grandes obras a um preço muito acessível e num formato de "bolso" mas que se leêm muito bem.

domingo, 11 de janeiro de 2009

O Pianista - Manuel Vázquez Montalbán

Desde já começo por pedir desculpa por esta ausência, mas esta altura do ano é terrível para mim, tenho sempre mais trabalho e menos tempo disponível para leituras e para actualizar o blog. Felizmente já tudo voltou à normalidade e cá estou eu de novo.
Hoje venho falar-vos de um livro que li no final do ano passado e nos primeiros dias deste ano.
O livro chama-se O Pianista e é do escritor espanhol Manuel Vázquez Montalbán.
Montalbán com este livro e de uma forma fabulosa e magistral faz-no um relato da história do séc XX Espanhol.
A história começa nos princípios dos anos 80, com a democracia espanhola a dar os seus primeiros passos, ainda muito tímidos e centra-se num grupo de amigos que vão ter uma saída à noite, passada na cidade de Barcelona, temos também uma grande descrição da própria cidade e do seu ambiente nocturno, a "movida" catalã.
Esse grupo de amigos, vai até a um cabaret assistir a um show de travestis, e lá encontram figuras públicas, nomeadamente Javier Solana, ministro em Espanha na época e o grande músico espanhol Doria.
Nesse cabaret, a acompanhar os shows de travestis, encontra-se um pianista, já idoso que chama a atenção a um elemento do grupo, devido ao seu virtuosismo a tocar, coisa fora do normal num ambiente daqueles, mais curioso vai ficar depois que no final, quando o músico Doria se dirige a esse pianista pelo nome próprio e o elogia, como se conhecessem há muitos anos.
Esta primeira parte do livro, serve como introdução à história do pianista, Albert Rossell de seu nome.
Em seguida, a acção passa-se na Barcelona dos anos 40, após a guerra civil, e a II Guerra Mundial, onde a Espanha já se encontra dentro do fascismo e temos um Rossell acabado de sair da prisão e a tentar integrar-se numa sociedade reprimida e controlada, onde ele e todos os outros ex combatentes republicanos têm dificuldade em inserir-se. Nesta parte a vida política e social de Espanha, é muito bem retratada, por vezes até de uma forma até um pouco cómica, principalmente na parte da busca de um piano para Rossell tocar. Com a descoberta de um piano, vem também o reencontro com Teresa.
Reencontro esse que nos transporta para a terceira parte do livro e para a Paris dos anos 30, que ferve de cultura e liberdade, são os anos de Hemingway, Stein, Malraux, Picasso e é nesse ambiente que encontramos um Rossell acabado de chegar da pacata Barcelona, também ele tímido e pacato apenas preocupado com os seus estudos no conservatório.
Rossell fica hospedado na casa de Doria, que é um personagem sem escrúpulos, interesseiro, apenas preocupado com a sua glória, capaz de trair quem quer que seja, sem o mínimo arrependimento para alcançar os seus fins, juntamente com Doria conhece Teresa a sua amante.
É neste clima que Rossell vai viver, ofuscado por Doria, que é totalmente o contrário dele, causando vários conflitos entre eles.
Esta também é a Paris dos revolucionários, é lá que se encontram grupos clandestinos de comunistas e anarquistas espanhóis, que esperam atentamente o evoluir da inconstante política espanhola, que conduz à guerra civil, para intervirem e regressarem a Espanha para combaterem.
Rossell vai viver dias de incerteza, de esperança e de conflito interno e é neste estado de emoções que ele vai fazer a escolha que lhe vai alterar a sua vida para sempre.
Montalbán com este livro que começa do fim para o início e que nos deixa também muitas pontas soltas, sendo quase três livros diferentes num só, faz uma descrição, mas acima de tudo uma crítica muito forte à Espanha do séc. XX e às suas políticas, seja o socialismo antes da guerra civil com os seus exageros e fraquezas, o fascismo ou a democracia "hipócrita" dos anos 80. Mostra também que não é só escritor de policiais, demonstrando que é sem dúvidas um dos melhores escritores espanhóis da actualidade.