E cá estou novamente de volta a um dos géneros literários que mais aprecio e a uma autora que descobri recentemente, mas que me conquistou em absoluto com a sua escrita e livros.
Deana Barroqueiro (cuja apresentação fiz na minha opinião sobre outro livro escrito por ela e lido anteriormente por mim, "O Navegador da Passagem"), volta ao seu tema preferido as "Descobertas" e a expansão marítima portuguesa e pegando numa personagem real e num livro escrito à quatrocentos anos atrás, leva-nos numa viagem cheia de perigos, aventuras e atribulações ao Oriente Português do séc. XVI.
O herói deste livro é Fernão Mendes Pinto, o autor e escritor dessa obra prima da literatura Portuguesa e até mesmo mundial que é a "Peregrinação" cujas aventuras e desventuras são nos contadas pela autora.
Tendo por base a "Peregrinação" e muitos outros livros e documentos da época, Deana Barroqueiro com a sua escrita fluída, simples mas muito rigorosa consegue transformar este livro não num "resumo" ou numa simples "adaptação" da "Peregrinação" mas sim num excelente romance histórico onde para além da história e vida de Fernão Mendes Pinto, são também relatados vários acontecimentos importantes da História de Portugal e da conquista do Oriente, como por exemplo os cercos de Diu, a conquista de Malaca, a chegada ao Japão e a introdução das armas de fogo nesse país, as inúmeras guerras contra os reinos muçulmanos e Indianos e a participação portuguesas nas guerras nos vários reinos que existiam pelas ilhas de Java, Samatra e na Malásia e Birmânia. Para além dos acontecimentos históricos, alguns narrados na primeira pessoa por Fernão Mendes Pinto outros narrados por outras personagens em forma de relato ou conversa com Fernão Mendes Pinto, também é descrita de uma forma exemplar toda a sociedade tanto portuguesa como dos povos do oriente os seus usos, costumes, linguagem, cultura e religião de uma forma pormenorizada, chegando a pequenos pormenores como os trajes, a comida a forma de se sentar, sendo os capítulos passados no Japão e na China um grande exemplo disso.
O livro em si é grande, mas como disse anteriormente fácil de ler, apesar de muito pormenorizado a história "agarra-nos" do princípio ao fim, os acontecimentos sucedem-se uns atrás dos outros mas sem baralhar o leitor, sempre que há saltos temporais ou no espaço, a própria autora avisa os leitores em pequenos interlúdios e faz a explicação do que se passa.
A acção concentra-se nos primeiros dez anos que Fernão Mendes Pinto está no oriente, dez anos esses onde ele mais viaja e mais aventuras e desventuras tem. Além disso o livro está dividido em sete partes, que representam os "sete mares" e dentro de cada parte há vários capítulos, é interessante também cada capítulo ter uma espécie de apresentação ou introdução onde a autora coloca um pequeno provérbio, citação ou poema dos povos dos sítios onde esse capítulo se passa e também um extrato de um documento (livro, carta, etc.) português da época que ajuda a contextualizar a acção.
Este "Corsário dos Sete Mares" é sem dúvida um grande livro, sei da própria voz da autora que ele levou cerca de quatro anos a ser escrito e isso nota-se bem no rigor histórico do livro.
É daqueles livros que eu recomendo muito, para além de ser uma excelente forma de entretenimento é também uma enorme fonte de conhecimento histórico e cultural e se anteriormente já andava cheio de vontade de ler a "Peregrinação", agora ainda mais tenho... Pena esse livro não estar (como deveria estar por ser uma obra prima da literatura nacional) mais divulgado e a preço acessível como todas as outras grande obras literárias nacionais, como por exemplo (como não devia deixar de ser) "Os Lusíadas" de Camões... Sei que a "Relógio D'Água" tem uma edição em português moderno em dois volumes que custa por volta dos 40€... Fica aqui a quem de direito (editoras e afins) uma sugestão para revitalizar a "Peregrinação" e pôr Fernão Mendes Pinto no devido lugar em que merece estar, a par dos grandes escritores Portugueses de sempre.