Samuel Beckett... Escritor e dramaturgo, vencedor de um Nobel, com uma história de vida fabulosa é também dos autores mais difíceis (a par de Joyce, de quem Beckett foi compatriota e discípulo) que eu já li.
A obra de Beckett é muito metafórica, estranha, vai até às profundezas do Homem, da sua condição, da sua humildade e emoção, chegando mesmo ao surreal.
Este livro, "Malone Está a Morrer", que faz parte de uma trilogia, é o exemplo perfeito da descrição que fiz da sua obra.
Temos a personagem "Malone" que se apresenta como um velho quase a morrer, e que se encontra deitado numa cama, sozinho num quarto, sem saber aonde, nem como foi lá parar.
Ao princípio ainda ia uma mulher, também idosa mas menos que ele, levar-lhe comida, mas depois deixou de lá ir, sendo a comida entregue através de um postigo na porta.
Malone para passar o tempo, para além das suas próprias divagações vai inventar e escrever uma história num caderno que diz ter, mas que também não sabe como lhe foi parar às mãos...
Sendo assim aparece Sapocast, um jovem e a sua família.
Beckett, através de Malone vai criar uma série de situações e consegue ao mesmo tempo, intercalar de uma forma excelente as divagações de Malone com a narrativa da estória de Sapocast e sua família.
Depois de uma série de peripécias, Malone retoma a narrativa mas deixa de haver Sapocast e aparece Macmann, também um idoso que se encontra num lar/hospital psiquiátrico, onde Beckett deixa vir ao de cima a sua imaginação e o apresenta-nos mais uma série de personagens e acontecimentos surreais.
O final do livro é inconclusivo, o que leva a cada um de nós imaginar o seu fim...
O livro não é grande, mas também não é de leitura fácil, mas mostra ao mesmo tempo a inteligência e a visão da Humanidade de Beckett.