Desde já começo por pedir desculpa por esta ausência, mas esta altura do ano é terrível para mim, tenho sempre mais trabalho e menos tempo disponível para leituras e para actualizar o blog. Felizmente já tudo voltou à normalidade e cá estou eu de novo.
Hoje venho falar-vos de um livro que li no final do ano passado e nos primeiros dias deste ano.
O livro chama-se O Pianista e é do escritor espanhol Manuel Vázquez Montalbán.
Montalbán com este livro e de uma forma fabulosa e magistral faz-no um relato da história do séc XX Espanhol.
A história começa nos princípios dos anos 80, com a democracia espanhola a dar os seus primeiros passos, ainda muito tímidos e centra-se num grupo de amigos que vão ter uma saída à noite, passada na cidade de Barcelona, temos também uma grande descrição da própria cidade e do seu ambiente nocturno, a "movida" catalã.
Esse grupo de amigos, vai até a um cabaret assistir a um show de travestis, e lá encontram figuras públicas, nomeadamente Javier Solana, ministro em Espanha na época e o grande músico espanhol Doria.
Nesse cabaret, a acompanhar os shows de travestis, encontra-se um pianista, já idoso que chama a atenção a um elemento do grupo, devido ao seu virtuosismo a tocar, coisa fora do normal num ambiente daqueles, mais curioso vai ficar depois que no final, quando o músico Doria se dirige a esse pianista pelo nome próprio e o elogia, como se conhecessem há muitos anos.
Esta primeira parte do livro, serve como introdução à história do pianista, Albert Rossell de seu nome.
Em seguida, a acção passa-se na Barcelona dos anos 40, após a guerra civil, e a II Guerra Mundial, onde a Espanha já se encontra dentro do fascismo e temos um Rossell acabado de sair da prisão e a tentar integrar-se numa sociedade reprimida e controlada, onde ele e todos os outros ex combatentes republicanos têm dificuldade em inserir-se. Nesta parte a vida política e social de Espanha, é muito bem retratada, por vezes até de uma forma até um pouco cómica, principalmente na parte da busca de um piano para Rossell tocar. Com a descoberta de um piano, vem também o reencontro com Teresa.
Reencontro esse que nos transporta para a terceira parte do livro e para a Paris dos anos 30, que ferve de cultura e liberdade, são os anos de Hemingway, Stein, Malraux, Picasso e é nesse ambiente que encontramos um Rossell acabado de chegar da pacata Barcelona, também ele tímido e pacato apenas preocupado com os seus estudos no conservatório.
Rossell fica hospedado na casa de Doria, que é um personagem sem escrúpulos, interesseiro, apenas preocupado com a sua glória, capaz de trair quem quer que seja, sem o mínimo arrependimento para alcançar os seus fins, juntamente com Doria conhece Teresa a sua amante.
É neste clima que Rossell vai viver, ofuscado por Doria, que é totalmente o contrário dele, causando vários conflitos entre eles.
Esta também é a Paris dos revolucionários, é lá que se encontram grupos clandestinos de comunistas e anarquistas espanhóis, que esperam atentamente o evoluir da inconstante política espanhola, que conduz à guerra civil, para intervirem e regressarem a Espanha para combaterem.
Rossell vai viver dias de incerteza, de esperança e de conflito interno e é neste estado de emoções que ele vai fazer a escolha que lhe vai alterar a sua vida para sempre.
Montalbán com este livro que começa do fim para o início e que nos deixa também muitas pontas soltas, sendo quase três livros diferentes num só, faz uma descrição, mas acima de tudo uma crítica muito forte à Espanha do séc. XX e às suas políticas, seja o socialismo antes da guerra civil com os seus exageros e fraquezas, o fascismo ou a democracia "hipócrita" dos anos 80. Mostra também que não é só escritor de policiais, demonstrando que é sem dúvidas um dos melhores escritores espanhóis da actualidade.