Este é um dos livros que há muito
queria ler, mas que por inúmeras razões foi sempre adiada a sua
leitura, até que finalmente me decidi a lê-lo.
Foi o último livro que George Orwell
escreveu e que (pode-se dizer) o levou à morte, foi inspirado na sua
experiência pessoal durante a guerra civil de Espanha na qual ele
participou pelo lado dos republicanos.
Estamos (talvez) no ano de 1984 em
Londres, o mundo tal como o conhecíamos deixou de existir, depois de
inúmeras guerras e revoluções apenas existem três países a
Oceânia (onde se passa a acção), a Eurásia e a Lestásia, todos
eles com regimes totalitaristas e em guerra contínua.
Na Oceânia, mais propriamente em
Londres o regime é o “socing” (socialismo inglês), uma doutrina
que advêm do socialismo mas que se tornou num regime centrado no
“Partido”, que controla tudo e todos e tem como símbolo o
“Grande Irmão” uma espécie de ser omnipotente e omnipresente a
quem todos devem obedecer. Neste mundo existem três espécies de
classes sociais, o “partido interno”, chefes e dirigentes
directos do partido, o “partido externo” os funcionários do
partido (tal como os nossos funcionários públicos uma espécie de
classe média) e os “proles”, o povo que pouco mais serve para
trabalhar e procriar.
É neste mundo que encontramos Winston
um homem de meia-idade, pertencente ao “partido externo”,
funcionário do “ministério da verdade” uma espécie de
ministério da propaganda onde todo o passado é alterado conforme as
vontades do partido, as notícias são apagadas e alteradas, a
literatura censurada e reescrita de forma a que tudo o que “Partido”
dissesse e fizesse fosse sempre verdade, mas Winston tem dúvidas,
apercebe-se que certas coisas não “batem certo” e isso vai
fazendo com que secretamente se vá virando contra o “Partido”,
entretanto conhece Júlia também ela uma rebelde e apaixonam-se,
coisa totalmente proibida visto que o amor, o prazer a sexualidade
eram considerados crimes. Vão se encontrando às escondidas e
através de O’Brien, um dirigente do “partido interno”,
ingressam na “fraternidade” uma suposta organização secreta que
tem por objectivo derrubar o “Partido” e o “Grande Irmão” e
restabelecer a democracia.
Naturalmente são apanhados e presos e
é nesta última parte que Orwell acentua a parte mais filosófica
desta obra, durante o período de prisão, tortura e doutrinação de
Winston é questionada e argumentada a luta do bem contra o mal, o individualismo contra o
colectivo, a liberdade e o totalitarismo e o poder, em suma a condição
humana.
É uma obra muito
forte, apesar de escrita pós segunda guerra mundial e fazendo uma
crítica muito feroz aos regimes totalitários da época,
principalmente ao Estalinismo, mas também ao Nazismo, continua actual e faz-nos pensar e olhar para o rumo político que o mundo actual está
a tomar, o ressurgimento da extrema-direita, o fundamentalismo
religioso, o xenofobismo, os Trumps que por aí andam, a tirania dos
mercados… Enfim todos os ingredientes para que a nossa civilização
tenha também um fim triste.
3 comentários:
eu sempre brinco q esse tipo de produto é da série "todo mundo leu menos eu", mas esse eu li. então é da série "todo mundo leu menos vc". sempre temos algo que todo mundo viu menos a gente. é uma sensação estranha onde parece q estamos fora do mundo. é bem triste realmente. o filme é igualmente incrível. acho que vai gostar. bonita capa. eu li de uma biblioteca há anos. a capa era muito, mas muito feia. beijos, pedrita
Gostei muito da obra, é das obras distópicas mais pessimistas que li, pois não só não há esperança de saída, é tudo controlado até o íntimo das pessoas e neste ponto, efetivamente atinge-se o extremo da falta de liberdade individual.
Orwell sem dúvida que tinha uma mensagem: o limite da imposição do coletivo sobre o individual, algo que o preocupou intensamente depois de se aperceber do que estava para o outro lado da cortina de ferro na Europa.
Quem ler O fim do homem sovietico do prémio Nobel de 2015 verá algo real sobre isto e sem ser ficção.
Sem dúvida um livro básico a quem deseja conhecer e pensar sobre quaisquer formas extremas de controle. Obviamente o autor apresenta um mundo futuro, mas não entendo essa obra apenas relacionada ao contexto do período. Ainda que o escritor represente na ficção as ditaduras totalitárias (que sabemos, tanto poderão ser da esquerda da direita), atribuo certa característica visionária ao autor, tendo em vista as possíveis características de um mundo moderno, no qual hoje nos inserimos. Impossível não refletir sobre O Grande Irmão fazendo uma correlação com a imagem do panopticon do Vigiar e Punir, pensando sobre nossa suposta “liberdade”.
Enviar um comentário