domingo, 16 de agosto de 2015

"Os Cadernos de Pickwick" - Charles Dickens



Quando se pensa em Dickens, vem-nos logo à memória livros como "Oliver Twist", "David Copperfield", "História de Duas Cidades" e o famosíssimo "Um Conto de Natal", livros em que Dickens nos traça uma visão pesada da difícil vida na Inglaterra vitoriana, o advento da revolução industrial, do capitalismo, as terríveis condições das classes mais baixas, com pobreza extrema e a exploração das classes pobres.
Com este "Os Cadernos de Pickwick", Dickens também nos traça igualmente uma visão crítica da Inglaterra da época, mas sob um olhar irónico, satírico e cómico.
Este livro, que originalmente não era um livro em si, mas um "folhetim" que foi publicado em vinte fascículos com ilustrações foi escrito entre 1836-1837 na juventude de Dickens, sendo quase de imediato um grande sucesso que muito contribuiu para a enorme fama como escritor que Dickens teve posteriormente.
Este livro tem como enredo, um suposto clube cujo presidente seria o Sr. Pickwick, personagem de alguma idade, com bastantes posses e solteiro que na sua reforma cria este clube como "base" para as suas viagens e adquirir com isso conhecimentos culturais e sociais, que depois seriam discutidos e debatidos entre os membros desse mesmo clube.
Pickwick, sempre acompanhado por três companheiros, inicia então o seu périplo pelos condados e regiões do sul de Inglaterra, onde irá passar por uma série de peripécias, situações rocambolesca, algumas até mesmo estapafúrdias  e inverosímeis, mas que no contexto da ação encaixam perfeitamente como situações naturais.
Apesar das situações cómicas deste livro, para mim, a grande alma do mesmo são sem dúvidas as suas personagens, para além de Pickwick, temos também os seus companheiros de aventuras e membros do clube que o acompanham sempre e também são parte importante como se verá ao longo do livro e temos especialmente Sam Weller, o criado de Pickwick, uma espécie de "Sancho Pança" que é uma das pedras fulcrais do livro, (foi após a entrada desta personagem na história que a procura da mesma se intensificou e tanta fama deu a este livro), com uma personalidade simples e sincera, mas extremamente inteligente e acima de tudo com uma lealdade a Pickwick acima de tudo e todos.
Para além destas personagens principais existem também toda uma série de outras personagens que vão desde ricos fazendeiros e as suas filhas "coquettes", vigaristas e oportunistas, advogados, juízes, caixeiros viajantes, cocheiros, boémios estudantes, senhorias solteiras e viúvas sempre prontas a casar novamente, jornalistas e políticos, enfim toda a sociedade inglesa da época desde a a mais alta à mais baixa, classe essa tão bem retratada nos capítulos referentes à prisão de Fleet.
Tal como nos seus livros seguintes Charles Dickens traz-nos neste livro uma visão muito crítica da Inglaterra da época, do seus usos e costumes, da sua justiça e leis que para uns (ricos) era extremamente flexível e para outros (pobres) de uma rigidez extrema, da política e a sua organização eleitoral, do jornalismo, dos hábitos sociais tanto das grandes cidades como Londres como das povoações mais pequenas, enfim um relato que apesar de muito irónico, satírico e cómico não deixa de ser completo e acertado.
Este livro é extremamente delicioso de se ler, consegue arrancar-nos umas boas gargalhadas e um sorriso que nos acompanha desde o princípio ao fim.

1 comentário:

Pedrita disse...

ah, esse eu li mais recentemente e comentei aqui http://mataharie007.blogspot.com.br/2009/09/as-aventuras-do-sr-pickwick.html
eu tb adorei. beijos, pedrita